Liberdade de cátedra na UNEB: setores progressistas se manifestam contra a extrema-direita



Desde a última quinta-feira (16) segmentos da UNEB e setores progressistas da sociedade têm levantado suas vozes contra mais uma tentativa da extrema-direita de atacar a liberdade de cátedra, a democracia e a autonomia universitária. A origem do fato foi a ação de uma estudante do 7º período do curso de graduação em Relações Públicas da UNEB. Após gravar sem permissão e fazer edição distorcida de falas de um professor da instituição, divulgou nas redes e em grupos de WhatsApp um vídeo difamando o docente. Depois, em outro vídeo, o professor e toda a comunidade acadêmica também sofreram acusações do deputado federal Gustavo Gayer (PL/GO). Leia aqui a nota da ADUNEB, publicada na quinta-feira, sobre o assunto.
Na sexta-feira (17), em reunião ampliada, o Conselho Departamental do DCH-I manifestou-se contra o recrudescimento da extrema-direita e em apoio ao professor Ricardo Caribé, difamado no citado vídeo. Em uma plenária lotada com várias representações da comunidade acadêmica da UNEB, entre elas coordenadoras/es de colegiados, de cursos como Direito e História, demais docentes, estudantes e técnicas/os-administrativas/os, foram realizadas falas em defesa da construção do pensamento crítico em sala de aula. A ADUNEB foi representada pela professora Lilian Marinho, Coordenadora da Subseção Departamental do DVC-I.
Ideário anti-democrático
Após a presença na reunião do Conselho Departamental do DCH-I, o professor Ricardo Caribé falou com a reportagem da ADUNEB. Para ele, os vídeos divulgados com mensagens manipuladas e inverídicas não podem ser lidos somente como atos de ofensa ou de desrespeito. “É a representação de um ideário anti-democrático, que se opõe à existência da universidade pública gratuita, inclusiva e de qualidade no Brasil. Ainda segundo o professor Caribé, os vídeos foram contra a universidade e contra o direito da população brasileira de acessar uma universidade e ter um ensino de qualidade, ter um espaço de pesquisa, de extensão, de debate, de transformação”.
Ato pela liberdade de cátedra
Para a professora Lilian Marinho, o que era para ser uma reunião departamental transformou-se em um verdadeiro ato público em defesa da liberdade de cátedra e do pensamento crítico. Embora considere importante todas as intervenções que se posicionaram contra a lei da mordaça na universidade pública, a docente citou que o principal momento da plenária foi a leitura de uma nota produzida pelos demais estudantes, do 7º período do curso de Relações Públicas, mesma sala em que está a aluna que fez o vídeo difamatório.
Entre outros aspectos, a nota estudantil declara que o grupo tem compromisso com a verdade e não adota posicionamento partidário. Critica gravações em sala de aula sem a devida autorização, o que se configura como forma de intimidação ao livre exercício da docência. Repudia a manipulação de conteúdos de falas descontextualizadas e, ainda, conclui defendendo a universidade pública como espaço plural, de diálogo, em que ideias diversas possam ser debatidas com liberdade, em ambiente de mútuo respeito e integridade acadêmica.
Testemunha ocular
A reportagem falou também com uma das estudantes do 7º período que apoiou a nota em defesa da liberdade de cátedra. Ela comentou o que motivou a produção do documento. “Enquanto turma, entendemos que éramos as únicas pessoas que haviam presenciado o desenrolar da situação. Em um primeiro momento, nem conseguimos conceber que a aluna estava de fato gravando o professor”. Sobre as aulas de Ricardo Caribé, ela declarou: “Ele sempre estimula os debates saudáveis dentro da sala. Inclusive, mesmo sabendo que existem pessoas com posições antidemocráticas, ele não faz diferenciação de tratamento e sempre tenta incluir essas pessoas para de alguma forma tentar entender o que leva a esse posicionamento”, afirmou a entrevistada, que por segurança optou por omitir o nome.
Desagravo
Ainda na sexta-feira, após a plenária docente, o DCH-I divulgou uma nota em que “repudia veementemente qualquer tentativa de deturpar o trabalho docente ou atentar contra o ambiente de diálogo crítico e democrático que caracteriza a vida universitária”. O texto reafirma “a defesa intransigente da liberdade de cátedra, princípio que garante ao professor o exercício pleno de suas atividades pedagógicas e intelectuais”. O DCH-I informou ainda que os fatos ocorridos na sala de aula serão apurados pelas instâncias competentes da UNEB, para a adoção das medidas cabíveis.
OAB Bahia
Conhecida por sua ampla atuação em defesa da democracia, na mesma sexta-feira (17), a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Bahia, por meio de sua Comissão de Direitos Humanos, também divulgou nota sobre os vídeos de ataque ao professor e à UNEB. “A criminalização do pensamento crítico e a tentativa de converter o espaço acadêmico em arena de intimidação política são inaceitáveis e ferem frontalmente os princípios da tolerância, do pluralismo e da dignidade humana, além de violar a Constituição Federal, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e instrumentos internacionais que consagram a liberdade de opinião, de expressão e de ensino como fundamentos de toda sociedade democrática”, declarou um dos trechos da nota.
Cartilha de orientação
Veementemente favorável ao pensamento crítico, à pluralidade de pensamentos e ao ensino libertador, mais uma vez, a ADUNEB se coloca ao lado das professoras e dos professores da UNEB. A seção sindical orienta a categoria docente a procurar a sua assessoria jurídica diante de qualquer intimidação, assédio, calúnia ou difamação. No intuito de proteger os colegas, a ADUNEB também voltou a divulgar amplamente a sua cartilha com orientações jurídicas para a garantia da liberdade de cátedra (leia aqui).
