Mesa-redonda debate interconexões entre etnia e gênero na universidade

Ouvir notícia

A mesa redonda “Interconexões entre etnia e gênero na prática docente no ensino superior”, promovida pela ADUNEB na última sexta-feira (28), encerrou de maneira potente a agenda de atividades da seção sindical relacionadas ao Novembro Negro. O evento foi realizado em Salvador, com transmissão ao vivo pelo Youtube (assista aqui), e teve como conferencistas a Pró-Reitora de Ações Afirmativas da UNEB, Dina Maria Rosário dos Santos, e o Coordenador de Finanças da ADUNEB, Fábio Ronaldo da Silva. A mediação foi do professor Edson Fernando Oliveira Silva, Coordenador de Subseções Departamentais da Seção Sindical.

 Dina Rosário trouxe à mesa a dificuldade de se estabelecer um planejamento eficaz das políticas públicas, no Estado da Bahia e na UNEB, por falta de registros adequados dos perfis dos sujeitos. Segundo a gestora, desde 2002, quando foram instituídas as cotas para pessoas negras na universidade, assim como nos anos posteriores em que aconteceram as atualizações e ampliações das cotas, não se obteve das/os estudantes dados completos relacionados à racialidade, etnicidade, condição de deficiência, identidade de gênero e de sexo não restrito à binariedade. O problema ocorre porque no momento do registro dos perfis, é dada à pessoa a possibilidade de não informar seus dados. A questão, além de dificultar a execução de políticas públicas, impacta na prática docente. De acordo com a Pró-Reitora, a expectativa é que a partir de 2026 os registros acadêmicos sejam melhorados na graduação e na pós-graduação.

 Sobre a prática docente, a professora Dina problematizou as formações acadêmicas baseadas em autores que geralmente são homens, héteros, cisgêneros, de origem europeia e oriundos de classes altas. Para ela, a partir de olhares tão distanciados fica difícil construir a compreensão de si. “As práticas construídas precisam ter relações com a gente”, explicou. Dina Rosário encerrou fazendo um convite às/aos docentes para a escolha de autoras e autores contracoloniais e, ainda, valorizou a escuta aos ensinamentos da prática dos movimentos sociais.

 Interconexões

 O professor Fábio da Silva apresentou reflexões obtidas a partir das experiências vividas e presenciadas tanto na universidade como em sua militância como atual Presidente do Conselho LGBT de Juazeiro. Ele demonstrou que em muitos momentos, embora a universidade se apresente como um espaço plural, ela não é acolhedora para todos os corpos, saberes e experiências. Fábio afirmou que na academia não existe neutralidade, pois todas as pessoas são atravessadas por raça, gênero, sexualidade, trajetória familiar e pelo território em que estão inseridas. Por isso, a necessidade de se pensar interconexões. Citando Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Bell Hooks, entre outras mulheres e intelectuais negras, o professor explicou que não é possível pensar a desigualdade de maneira fragmentada. As opressões se combinam e é desse processo que surge a exclusão.

 Para o Coordenador da ADUNEB, “trabalhar na prática docente com etnia e gênero não é apenas adicionar mais temas às aulas, mas transformar a própria forma de pensar, ensinar e produzir conhecimento”. O professor Fábio citou ações que podem ajudar na mudança estrutural do modelo em vigor. Entre os itens apontados estão: revisão crítica dos currículos e bibliografias; ações de acesso e permanência na universidade com recortes de raça e gênero; programas de formação docente; fortalecimento de núcleos, coletivos e conselhos que lutem por direitos dentro da universidade; e atenção às vozes socialmente marginalizadas.

 Ao final do evento, em conversa com a reportagem o mediador Edson Silva mostrou-se satisfeito com o resultado da atividade. Ele ressaltou a importância da mesa organizada pela ADUNEB. “A Seção Sindical considera fundamental proporcionar discussões sobre as questões raciais e de gênero, que perpassam pela atuação de docentes na construção e proposição de políticas públicas e ações pedagógicas no âmbito da universidade”, finalizou.

Voltar ao topo