Roda de conversa debate a violência contra indígenas e reivindica demarcação de territórios

A comunidade acadêmica do Campus da UNEB de Teixeira de Freitas, na terça-feira (25), participou da “Roda de Conversa Territórios e Resistências: Povos Indígenas do Sul e Extremo Sul da Bahia”, que aconteceu no auditório da universidade. Organizada e realizada pelo Centro de Pesquisa Intercultural da Temática Indígena (CEPITI) e pela ADUNEB, a atividade se fez necessária a partir da violenta incursão das polícias militar e civil, na quinta-feira (20), nos territórios Pataxó da Terra Indígena (TI) Comexatibá e Barra Velha. Nos citados locais, muitos indígenas pertencem à comunidade acadêmica do Campus de Teixeira de Freitas. Leia aqui a nota de solidariedade da ADUNEB após a violência do dia 20.

Sobre a truculenta invasão dos policiais, de acordo com os relatos de testemunhas, sob o pretexto de cumprirem mandados de prisão, os agentes de segurança teriam chegado atirando, agredindo pessoas, provocando medo e instalando um cenário de violência no local. O fato se soma a inúmeras outras ocorrências violentas no decorrer da história, que são realizadas por fazendeiros, posseiros e milicianos da região, que assassinam, ferem e ameaçam as comunidades indígenas das regiões Sul e Extremo Sul da Bahia.

Segundo uma das representações da ADUNEB no Campus X, a professora Ivana Gund, a atividade contou com aproximadamente 70 pessoas, dentre elas a comunidade acadêmica, integrantes de movimentos sociais, como membros do Sindicato dos Bancários, e demais pessoas da comunidade externa. “Muitas foram as considerações feitas pelos presentes, mas destacaram-se as que versaram sobre ser a luta indígena uma luta de todos, uma vez que eles são os defensores das florestas, das águas, da biodiversidade; também que se trata de uma luta maior relacionada à batalha pela terra, incluindo nela, os quilombolas, dos campesinos e demais grupos sociais”, explicou Ivana Gund. A docente informou ainda que a roda de conversa historicizou a questão indígena e a ausência de demarcação de terras, desde o período colonial até os marcos históricos mais recentes da região.

Cenário de tensão

O professor Halysson Fonseca, Coordenador da Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena (LICEEI X), explicou à reportagem que a Bahia é a segunda maior população indígena do país depois do Amazonas, e a que tem menos terras demarcadas.

Devido à demora na demarcação das terras indígenas, o clima na região é de tensão. “As elites políticas conservadoras e econômicas festejaram a incursão da polícia, no dia 20 de março, na TI Comexatibá e TI Barra Velha. Se esforçam para passar a imagem falsa de primeira vitória da disputa travada no STF, em que existe a discussão sobre o Marco Temporal. Quando na realidade eram mandados de prisão sendo cumpridos em situação atípica e com força desproporcional, pela polícia do Estado da Bahia, que para cumprir a ordem judicial utilizou a Secretaria de Segurança da Bahia como apoiadora. Ficando a marca intimidatória da experiência do dia 20, as milícias do latifúndio passaram a se sentir autorizadas a monitorar as circulações de pessoas, sentem-se autorizadas às práticas de intimidação e violência deixando a população indígena tensa, em situação de risco. São os indígenas que estão morrendo e, ao mesmo tempo, sendo acusados de serem violentos”, comentou o professor Halysson.

Todas e todos atentos à fala de prof. Halysson

Coordenador da pasta de Gênero, Etnia e Diversidade da ADUNEB, o professor João Pereira fez forte declaração contra a opressão às comunidades indígenas. “A nossa seção sindical se manifesta de forma veementemente contrária à violência perpetrada pelos órgãos públicos de segurança às comunidades dos povos originários. Não podemos conviver com a opressão aos grupos indígenas. Ao contrário: precisamos promover uma universidade que reconheça e acolha a sabedoria e cultura ancestral desses povos, que formam a nossa nação e que ao longo dos anos foram alvo do genocídio e do epistemicídio promovidos pelo estado brasileiro. Nos solidarizamos com a luta dos nossos irmãos indígenas e, também, dos colegas docentes que promovem pesquisa e atividades de extensão visando a emancipação dos povos originários”.

Também integrante da Coordenação Executiva da ADUNEB e do quadro docente do Campus X, a professora Karina Sales viu como positiva a roda de conversa, à qual esteve presente. “Essa atividade constituiu-se em mais um importante espaço de fortalecimento da luta pelos territórios indígenas, nesse contexto de violências sofridas pelas comunidades dos povos Pataxó de Barra Velha e Comexatibá e do sul da Bahia. A ADUNEB tem acompanhado essa luta há muito tempo, participado de ações e se juntado a outras entidades e coletivos sempre que se faz necessário, reforçando as trincheiras. Não podemos jamais nos eximir dessa e de outras lutas de nossas comunidades indígenas, as verdadeiras donas do território brasileiro”, afirmou Karina.

Encaminhamentos

Durante a roda de conversa, muitos participantes manifestaram interesse em contribuir de maneira efetiva com ações de solidariedade ao povo Pataxó. Assim, foram aprovados como encaminhamentos:

- Movimentações nas redes sociais de jornais e sites, a fim de dar visibilidade à situação dos povos indígenas da região;

- Confecção de camisetas com frases de apoio à luta indígena;

- Verificação das necessidades do povo Pataxó nesse momento e maneira de ajudá-los;

- Construção conjunta – comunidade acadêmica e externa – de um fórum permanente em apoio à causa indígena;

- Marcar presença, assim que possível, nas aldeias, com vistas ao diálogo e em solidariedade;

- Incluir, em eventos previstos para abril e maio de 2025, a pauta da luta pela demarcação da terra indígena e as muitas formas de violências sofridas pelos povos originários. Dentre esses eventos, a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária - JURA 2025, Abril Indígena, Abril Vermelho, agenda do dia 1º de maio, entre outras.

Reivindicação

 As lideranças Pataxó reivindicam atualmente uma reunião com o Governo do Estado, uma vez que esses mesmos gestores já fizeram reunião com os fazendeiros da região e, segundo relatos, auxiliaram na incursão policial, no último dia 20.

Por questões de segurança, a reivindicação é que a reunião ocorra nas TIs, com a participação da Comissão de Direitos Humanos e FUNAI.

Defesa da terra

Para conseguir atenção à causa indígena, tão invisibilidade na sociedade, os Pataxó do Sul da Bahia ocuparam e obstruíram a BR 101, de 26 a 28 de março. Com o mesmo objetivo, os Tupinambá também realizam atividades em nome da demarcação das terras indígenas na Bahia.

Protesto na BR 101, quinta-feira (27)

 *Com informações e fotos da/do docente Ivana Gund e Halysson Fonseca – Campus Teixeira de Freitas.

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