Professora da UNEB sofre injúria racial em aeroporto de São Paulo

Na manhã desta quinta-feira (19), a professora da UNEB Campus XIX (Camaçari), também advogada, Anhamona Silva de Brito, foi vítima de injúria racial de uma funcionária da Gol Linhas Aéreas. O caso ocorreu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, para onde a docente havia se deslocado a trabalho.

Anhamona não estava se sentindo bem ao desembarcar do voo G3 1525. Como o banheiro feminino estava lotado, dirigiu-se ao banheiro prioritário, porém não exclusivo, que estava vazio. Ao sair, foi abordada por uma funcionária da Gol que estava acompanhando uma pessoa com deficiência. A docente não foi questionada de forma educada sobre os motivos que a levaram a utilizar aquele espaço. Ao invés disso, a funcionária começou a gritar, buscando um embate. Anhamona relatou que pediu licença e retirou seu corpo da situação. Mas ainda assim foi perseguida pela funcionária no aeroporto que gritava atrás dela. A professora tentou uma abordagem educada e objetiva, questionando se aquela conduta dela não estava justamente eivada de preconceito racial, se não estava tomando uma postura racializada. Como resposta a professora foi ofendida com palavrões.

Ao tentar registrar uma reclamação sobre o ocorrido no guichê da Gol, a docente foi deslegitimada e desconsiderada. "A funcionária antecipou um julgamento que não era de competência dela dizendo que eu não sofri nenhum tipo de injúria racial, que a conduta da profissional era regular, talvez um pouco excessiva, e que eu não teria nada que reclamar”. Para que a reclamação fosse registrada, outra supervisora teve que dar prosseguimento ao atendimento. A professora conseguiu, então, registrar a reclamação de número 14929199. Ao questionar sobre os próximos passos para acompanhar e ter retorno da empresa, inclusive, porque solicitava cópias das imagens das câmeras de segurança, foi informada, inicialmente, que não tomaria conhecimento do assunto dali por diante, porque essa é a política interna da empresa. Até que, a supervisora que registrou sua reclamação a atendeu novamente, passando o contato da ouvidoria.

Após isso, também se dirigiu à 2ª Delegacia de Polícia de Atendimento ao Turista, localizada no aeroporto, para realizar uma ocorrência. Lá, mais uma vez teve sua denúncia deslegitimada. Ao relatar, em linhas gerais, o que havia acontecido ouviu da pessoa que lhe atender que o caso seria, no máximo, uma injúria, mas que não foi injúria racial. "Essa interpretação do caso por parte dos profissionais que acolhem nas delegacias e nas instituições as pessoas que se colocam na condição de vítimas de crimes raciais é muito séria. O profissional não tem condições de julgar previamente. Ele precisa com isenção e imparcialidade acolher a denúncia. E a apuração que vai conduzir ao desfecho”, reflete Anhamona Silva de Brito. A professora conseguiu registrar a ocorrência (Boletim nº RO0976-1/2024).

Na noite de hoje, recebeu uma ligação de uma preposta da GOL informando que verificaram a gravação e que a pessoa que cometeu a injúria e a perseguição não fazia parte do quadro de funcionários da empresa. Mas admitiu que a pessoa agiu de forma incompatível, que injuriou e constrangeu ilegalmente a docente. Anhamona questionou então se poderiam informar o nome da funcionária que a atacou, uma vez que ela estava prestando um atendimento para uma cliente da empresa, o que não lhe foi passado. Também considera que há, sim, uma responsabilidade da empresa, considerando que é alguém que atende seus clientes. Questionou também sobre a postura da funcionária da operadora que se negou a registrar sua reclamação e ainda fez julgamento sobre a questão. Sobre isso, não obteve resposta. Anhamona solicitou que a empresa formalizasse e enviasse para seu e-mail os posicionamentos informados pelo telefone. Até o momento, ainda não recebeu esse retorno. “No meu entendimento de mulher preta que lida com relações raciais e crimes vinculados a questão de raça, obviamente a cor da minha pele, quem eu sou, direcionou a ação”, ressaltou a professora.

A ADUNEB se solidariza a professora Anhamona e à tantas outras pessoas que são cotidianamente vítimas de injúria racial, constrangimento ilegal e racismo. O sindicato se soma na luta da professora para garantir seu direito de acesso às informações e imagens do ocorrido para que, conforme enfatizado por ela, possa dar encaminhamento às medidas judiciais e administrativas cabíveis.

Assista aqui o vídeo relato

Assista aqui vídeo sobre retorno da empresa

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