Governador da Bahia responde Movimento Docente e se mostra distante da realidade das UEBAs
Em entrevista nesta semana à Radio Sociedade, de Feira de Santana, o Governador Jerônimo Rodrigues deu declarações em resposta à campanha das professoras e dos professores das Universidades Estaduais da Bahia (UEBAs), que reivindica a recomposição das perdas salariais, desde 2015. O pronunciamento, considerado infeliz pelo Movimento Docente, serviu apenas para aumentar a indignação da categoria com o Chefe do Executivo. Diante da falta de empenho político do governo na mesa de negociação, as/os docentes seguem com indicativo de greve aprovado e mobilizados caso seja necessária a radicalização por tempo indeterminado.
Segundo a Coordenação da ADUNEB, os comentários do governador à emissora de rádio evidenciaram o quanto Jerônimo Rodrigues está distante da realidade das universidades estaduais e, ainda, trata com desinteresse as reuniões da mesa de negociação que pouco evoluem.
Em um dos vários momentos infelizes, o governador disse aos ouvintes: “As pessoas não precisam fazer outdoor. É pra se aparecer ou o que está acontecendo?”.
Vamos aos fatos, governador
Outdoors, paralisações e a construção de uma possível greve são necessárias e legítimas sempre que um governo trata com descaso as reivindicações da categoria docente. São meios utilizados para denunciar à imprensa e ao restante da sociedade a falta de vontade política do Palácio de Ondina.
Sobre a carta de reivindicações do Movimento Docente das UEBAs, o primeiro contato com Jerônimo Rodrigues foi realizado ainda durante a campanha eleitoral, em 26 de setembro de 2022. Após a eleição e a posse ao cargo, a primeira pauta de reivindicações foi protocolada junto à Casa Civil, SEC, SAEB e SERIN, em 11 de janeiro de 2023. Embora a primeira reunião tenha sido em 23 de janeiro daquele ano, as negociações começaram de maneira efetiva somente em 16 de abril deste ano. Ou seja, 15 meses, após a reunião inicial. Até o momento foram realizados 12 encontros e mais três foram desmarcados pelos representantes de Jerônimo Rodrigues.
Por enquanto, o resultado de todas essas reuniões é uma proposta do governo, para a recomposição salarial, de ganho real de apenas 1,15% ao ano, somando somente 3,5% em três anos. A ADUNEB ressalta que as perdas acumuladas, desde 2015, chegam a 35%.
Diante de tanto descaso, entende por que a necessidade de outdoor, governador?
Em outro trecho da entrevista, o Chefe do Executivo disse: “Os estudantes querem aula. Eu estou pagando em dias (sic)”.
Pagar salário em dia ao trabalhador e à trabalhadora não é mérito e sim obrigação. Sobretudo a um governador que já foi professor da UEFS e pertence a um partido que nasceu no seio da classe trabalhadora. Além disso, é intelectualmente desonesto tentar colocar em lados opostos docentes e estudantes. As/os docentes também querem aula. Mas, querem proporcionar formação digna e de qualidade aos estudantes. Muitas/os professoras/es trabalham há anos com salário defasado, sem adicional de insalubridade, sem a implantação de promoções ou progressões as quais têm direito por lei. Além disso, centenas de docentes comprometem mais de 20%, dos seus já defasados salários, com deslocamento e estadia para realizar a docência nos Departamentos do interior.
Em outro momento, o governador afirma estar “investindo em infraestrutura”. A ADUNEB relembra a Jerônimo Rodrigues que a Bahia possui quatro universidades estaduais e todas necessitam de atenção igual. A seção sindical convida o governador a percorrer a realidade da multicampia da UNEB, com os seus 27 campi e 32 departamentos, suas realidades e precarizações distintas, a exemplo do campus de Eunápolis, que funciona sem sede própria, no terreno improvisado de uma antiga transportadora de cargas. Com mais de 40 anos de existência, tendo 2.181 docentes, 26.931 estudantes de graduação, 5.331 na pós-graduação e 46 cursos presenciais, apenas o Campus da UNEB de Salvador possui restaurante universitário. Aos demais, o abandono.
É por essa UNEB, pelas suas coirmãs, UEFS, UESB e UESC, pela educação pública de qualidade, laica, gratuita, inclusiva e socialmente referenciada que o Movimento Docente luta e reivindica melhorias. Está em suas mãos a decisão, governador: entrar para a história como um educador, preocupado com a qualidade do ensino público superior ou como traidor das UEBAs.
E aí, governador Jerônimo, vai ter greve?