Uma roda de conversa entre diferentes gerações de mulheres pretas, resistentes, com a coragem e a força vindas de suas ancestralidades. Assim foi a mesa redonda “Independências necessárias para equidade de Gênero”, realizada nesta quinta-feira (25) - Dia Nacional de Tereza de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Integraram a mesa Taty Fiúza de Oya, Irenilza Oliveira, Natalícia Barbosa, Luma Oliveira e Laura Cruz. A mediação foi da diretora do CEPAIA, Lilian da Encarnação. A atividade integrou a agenda da ADUNEB voltada ao Julho das Pretas, organizada pela pasta de Gênero, Etnia e Diversidade, coordenada pelo professor João Pereira Júnior. O evento foi realizado na sede do CEPAIA, no Centro Histórico de Salvador. Além das duas entidades, a organização conjunta do evento contou com a participação da Rede EMUNDE.
Estudante do último semestre do Curso de Psicologia da UNEB, Laura Cruz foi a primeira a falar. Por já ter estagiado na Secretaria de Promoção de Igualdade Racial, ela levou à mesa a experiência adquirida em atendimentos psicológicos de pessoas negras vítimas, sobretudo, de racismo e intolerância religiosa. A estudante, além de enfatizar a importância simbólica do dia 25 de julho, ressaltou a necessidade da união das mulheres negras para o fortalecimento da resistência contra-hegemônica.
Especialista em saúde da mulher negra, a assistente social Luma Oliveira dialogou sobre a difícil realidade das mulheres negras, da disparidade em diversos aspectos da vida relacionados à classe e raça, principalmente no âmbito profissional. Em conversa com a reportagem, afirmou: “A gente precisa fazer um fortalecimento de base nos nossos espaços, para que possamos validar as vivências, as sobrevivências e os passos que as mulheres negras precisam, podem e devem alcançar nessa sociedade que, além de machista, é extremamente racista, homofóbica, transfóbica e misógina”.
Natalícia Lima emocionou a todos os presentes com sua história de vida vitoriosa. Atualmente, ela cursa doutorado e atua na coordenação financeira da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UNEB. O primeiro trabalho na universidade foi no setor técnico do teatro do Campus I, local que, segundo Natalícia, a presença feminina não era bem-vinda. Foi com muito estudo, vencendo preconceitos e superando obstáculos, que conseguiu assumir um cargo de gerência. “Eu mostrei a força de uma mulher preta em espaço público. Estou no doutorado e agradeço por essa caminhada na UNEB”, afirmou Natalícia.
A professora Irenilza Oliveira, que atua na Gerência de Promoção e Acompanhamento das Ações Afirmativas da PROAF da UNEB, alertou que a luta pela equidade de gênero necessita incluir todas as corporeidades consagradas como feminino, a exemplo de cisgêneros, transgêneros e travestis. Para ela, o fortalecimento das ações afirmativas acontecerá a partir da maior influência dos grupos e organizações junto a parlamentares e suas políticas públicas. A gestora abordou ainda a necessidade de pensar maneiras para que tais políticas sejam assertivas. Muitas vezes os programas existem, mas são elaborados a partir da colonialidade, o que os tornam inacessíveis a quem precisa. Como exemplo, citou os editais, feitos por um gênero textual que não alcança o segmento populacional que deveria.
De maneira proposital como demonstração de respeito, a última a falar foi Taty Fiúza de Oya. A anciã da mesa iniciou pedindo licença às ancestralidades e ressaltou a necessidade de relembrar os passos longínquos de onde vieram as mulheres negras. Ela é idealizadora e presidenta do Afoxé Filhos de Onira, que teve início há cinco anos, no Pelourinho. Relatou as dificuldades do começo pelas quais passa até hoje, devido aos preconceitos sofridos. Tay de Oya enfatizou a importância da valorização da mulher negra na sociedade e, também, reivindicou o respeito a todas, independente de escolaridade, classe social e função no mercado de trabalho. “Hoje, as mulheres são maioria nas presidências dos Afoxés. Nós podemos estar onde nós quisermos”, finalizou.