Afroempreendedorismo e a mulher negra no mercado de trabalho no Julho das Pretas da ADUNEB
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A potência da mulher negra, a importância do afroempreendedorismo e os desafios da mulher negra no mercado de trabalho foram as discussões da roda de conversa do Julho das Pretas, promovida pela ADUNEB, em parceria com o CEPAIA e a Rede EMUNDE, que aconteceu nesta terça-feira (23) na sede da seção sindical, em Salvador. O Encontro contou com a participação da Gardiã Mama Yama, representante da Rota do Alonso (EC) e da Profª Drª Sandra Maria Silva (UEFS / FAT / APNB). A mediação do encontro foi realizada pela Profª Tânia Bonfim (UNEB / Representante da Subseção Departamental da ADUNEB - Campus Camaçari), Lilian da Encarnação (CEPAIA) e Josenete Cardeal (Instituto Mãe Conceição).
A importância de atividades dessa natureza permearam a fala de abertura da noite, realizada por Lilian da Encarnação. Ela destacou o quanto esses debates reforçam a luta antirascistas, em especial no âmbito da universidade. Nesse mesmo sentido apontou Josenete, que destacou a importância da ancestralidade e de ações que ampliem a autoestima da mulher negra.
Josenete Cardeal apresentou ainda o trabalho do Instituto Mãe Conceição e da Rede EMUNDE no desenvolvimento do afroempreendeorismo e falou sobre reconhecimento, valorização e continuidade de projetos que criem oportunidades de trabalho e subsistência para o povo preto. Abordou, em especial, o trabalho desenvolvido dentro das comunidades de terreiro, refletindo também o não reconhecimento dos saberes ancestrais pela sociedade. “A sociedade não ampara mestras do saber, pois só reconhece o saber a partir de estudos acadêmicos, de um canudo. E são essas mestras, muitas vezes, que são campo de pesquisa para a universidade e elas precisam ser reconhecidas”, destacou.
Dando ainda mais elementos para pensar o papel e as condições da mulher negra no mercado de trabalho, a professora Sandra Maria Silva trouxe importantes dados sobre a desigualdade histórica de oportunidades e os desafios atuais. A partir de estatísticas e reflexões de pensadoras como Bell Hoocks, Jurema Werneck e Conceição Evaristo, ela apontou os desafios impostos às mulheres negras em um mercado de trabalho machista racista, refletindo também sobre a desigualdade de salários, a violência, a diferença latente entre a presença de mulheres e homens nos espaços de decisão, por exemplo. “Em geral, se a mulher negra avança, o racismo barra e se o racismo é burlado, geralmente, quem ascende é o homem negro”, comenta. A professora destacou, ainda, que mesmo vivendo nesse contexto racial e desigual no que se refere ao recorte de gênero, há sempre uma provocação para que as mulheres negras sejam gratas pelas parcas oportunidades, além de serem lidas como esforçadas e não pela sua competência e suas qualidades, “Negam o nosso saber e sempre há exigência e reforço que devemos fazer mais e mais”, complementou.
A Gardiã Mama Yama encerrou a noite, trazendo e conectando a história, a geografia e cultura afroequatoriana ao Brasil. Desde aspectos geográficos e energéticos da linha do Equador, às origens afro daquele país, conhecido como “o país dos 4 mundos”, ela apresentou como a cultura e a identidade do povo preto da região da Rota do Alonso vem se desenvolvendo e consolidando, inclusive no que se refere às políticas públicas. Destacou em sua fala o trabalho focado no afroempreendedorismo da região que conta, além de estabelecimentos do ramo alimentício, de moda, de estética, de espaços culturais; com festivais que movimentam a região promovendo o desenvolvimento das famílias e a preservação cultural.
Ao final do evento, João Pereira, Coordenador de Gênero, Etnia e Diversidade da ADUNEB, enfatizou a importância da mesa, composta por mulheres com reconhecida atuação na luta antirascista e na produção acadêmica anticolonial. “O racismo precisa ser enfrentado com protagonismo da população negra, em especial das mulheres, mas toda a sociedade precisa ser aliada nesta luta e a universidade não pode dar as costas para nossa comunidade”, refletiu o professor.
