Notícias

Dia da África ADUNEB: racismo, filosofia, territorialidade e afroempreendedorismo



Para celebrar o Dia da África, comemorado em 25 de maio, a ADUNEB reuniu nesta quinta-feira (23), em Salvador, docentes, representantes de movimentos sociais e comunidade de axé para refletir sobre racismo, filosofia, territorialidade e afroempreendedorismo. Realizado pela pasta de Gênero, Etnia e Diversidade da seção sindical a mesa contou com Tânia Bonfim, professora da UNEB do campus de Camaçari e coordenadora departamental da ADUNEB, Coordenadora do Movimento Negro Unificado de Feira de Santana (MNU); Edson Costa, Coordenador do V Fórum Mês da África e Coordenador da Rede Emunde (Afroempreendedorismo); o Prof. Bas'Ilele Malomalo (Congo), Doutor em Sociologia pela Unesp / Docente da UNILAB e Coordenador de Latitudes Africanas e Per Ankh Ntu; Sirlene Assis, Diretora da UNEGRO, Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM), Ex-Ouvidora Geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia.  Mediação foi dos professores João Pereira Oliveira Júnior e João José Borges, da coordenação executiva da ADUNEB. 

O professor Bas'Ilele Malomalo abriu a noite trazendo reflexões importantes a partir da perspectiva da filosofia africana, destacando aspectos imprescindíveis para pensar a África e suas diásporas como as civilizações, os corpos, a territorialidade, a relação com a natureza e a espiritualidade. Esse temas centralizam também suas reflexões no livro A filosofia do _NTU: Direitos e Deveres no Despertar da Consciência Biocósmica_ que busca resgatar reflexões importantes para a crítica do sistema colonial e seus impactos na desapropriação do modo de vida, da cultura e do conhecimento da população africana e afrodiaspórica. 

A liberdade, proveniente do respeito, da garantia de direitos, de subsistência, de oportunidades e do direito à vida permearam a fala da professora Tânia Bonfim. “Estamos aqui, sim, para celebrar e comemorar nossa cultura, a educação e referenciar a África como nossa Mãe, nossa matriz. Mas não deixamos de trazer a questão do racismo que nos adoece”, enfatizou a professora. Nesse sentido, destacou ainda a importância do afroempreendedorismo como forma de subsistência, de garantia de trabalho e de sustento à uma população que sofre historicamente as consequências do racismo estrutural. 

Coordenador da rede de afroempreendedorismo Emunde, Edson Costa trouxe às/aos presentes exemplos de importantes iniciativas no setor, com um apanhado histórico na Bahia desde 2014 até as agendas atuais do Fórum Emunde. Além disso, a atividade contou com a exposição de afroempreendedoras(es) que fazem parte da rede com uma gama de produtos de moda, design, brinquedos, perfumaria, entre outros. 

A união e o fortalecimento africano através dos direitos humanos foi o foco da fala política e sensivelmente humana de Sirlene Assis. O direito às cidades, o direito à vida de jovens negros mortos; os presídios superlotados majoritariamente por pessoas pretas - os “navios negreiros contemporâneos”, como falou a convidada; foram alguns pontos sobre os quais propôs refletir para mudar. “A África está aqui, está em nós.(...)  Essa África os colonizadores tentaram destruir mas não conseguiram. A nossa unidade e a nossa identidade resistiu”, destacou Silrlene.

 
Após um poesia declamada por Jadson Mahin, a Iyá Tâmara Odara encerrou o ciclo de falas do encontro lançando luz à questões de territorialidade, ancestralidade, espiritualidade e sobre as estratégias necessárias ao povo preto e periférico para sobreviver às infinitas adversidades que lhe são impostas. Tâmara pontuou questões importantes como a necessidade de reivindicar políticas afirmativas que salvaguardem a liberdade e os direitos dessa população numa sociedade genocida. “Dia 25 de maio é um dia muito importante e eu tenho o Dia da África como um dia contra a colonização. Precisamos fazer valer esta data em todos os dias da nossa vida. Estamos insubmissos em relação a todas as formas de colonização”, afirmou a iyalorixá. 

João Pereira, integrante da Coordenação Executiva da ADUNEB destacou que o encontro foi um importante momento de reflexão sobre o legado de exclusão, genocídio e violência da escravidão que tem como consequência o racismo estrutural que chega até nossos dias. “Mas também foi um momento pra rememorar a importância da cultura, da arte, dos costumes, da culinária, da tecnologia africana que mudou a nossa civilização brasileira”, destacou o professor. 

Ao som do aguerê, ritmo característico do orixá Oxóssi - o rei da caça e da prosperidade, o orixá da flecha certeira saudado na quinta-feira - a comunidade do Terreiro Egbé Onã Osun encerrou a atividade em clima de festa, celebração, união e resistência.