Solidariedade ao Cacique Babau, ofendido por ministro do STF
Liderança indígena do povo Tupinambá da Serra do Padeiro, respeitado por seu histórico de luta em favor dos direitos dos povos originários, o Cacique Babau foi difamado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira (30). O ataque verbal foi proferido durante uma das sessões do STF que julga a constitucionalidade do Marco Temporal às terras indígenas.
Segundo as denúncias nas redes sociais, divulgadas por entidades representativas dos povos indígenas, a fala do ministro sugeriu que o Cacique Babau não seria indígena, e sim “um negro ali de Minas Gerais”. Além disso, ainda teria declarado que com suas ações Babau provoca medo na população da região Sul da Bahia.
A coordenadora da pasta de Gênero, Etnia e Diversidade da ADUNEB, Iris Verena de Oliveira, relembra que, devido à destacada luta do Cacique Babau pelos direitos dos povos das florestas, em novembro de 2018, ele foi homenageado com a Comenda Dois de Julho, a mais alta condecoração oferecida pela Assembleia Legislativa da Bahia. Em junho de 2021, o líder Tupinambá foi agraciado pela UNEB com o título de Doutor Honoris Causa, a honraria máxima da universidade. “Foi com muita indignação que ouvimos as falas caluniosas dirigidas ao Cacique Babau. Em um país democrático, a luta dos povos indígenas pelo território precisa ser a luta de todas e todos nós. A fala do ministro tenta deslegitimar uma liderança histórica do Movimento Indígena, respeitado não só na Bahia, mas em todo o país. O mínimo que se espera é uma retratação pública do ministro”, afirma Iris.
Para a professora Maria Geovanda Batista, Coordenadora do Núcleo de Estudos Interculturais e da Temática Indígena (CEPITI), do Campus da UNEB de Teixeira de Freitas, não são poucas as contribuições que o Cacique Babau vêm dedicando na defesa de sua comunidade, do seu território e, principalmente, da natureza e da Mata Atlântica. “Nós, docentes pesquisadoras e pesquisadores do CEPITI e da UNEB, ficamos muito chocados com o modo como o ministro do STF, Gilmar Mendes citou o Cacique Babau. Trata-se de acusações e juízo infundado, sem lastro com a realidade, fere não apenas, sua honra e de seu povo Tupinambá. Também, serve como munição aqueles que, cobiçando suas terras têm patrocinado inúmeros ataques e violências variadas em seu próprio território originário. Que, diferentemente do que lhe foi atribuído, como pertencente a Minas Gerais, encontra-se situado no Sul da Bahia”.
Outra liderança indígena, Agnaldo Pataxó Hã Hã Hãe, Coordenador Geral do Movimento Unidos dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (MUPOIBA), afirmou na página da entidade no Instagram que o ministro agiu de maneira “discriminatória” e “racista”. “Nós vamos tomar todas as providências, de acordo o Constituição, para que o Ministro Gilmar Mendes possa responder, de acordo com as luzes das nossas leis, pelo seu ato racista e preconceituoso, não respeitando a Constituição Federal, não respeitando o modo dos povos originários se organizarem e escolherem os seus líderes”. O Pataxó encerra convocando os Movimentos Indígena e Negro para protestarem contra o ato do ministro do STF.