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ADUNEB presta solidariedade pelo assassinato do jovem quilombola William Barros



 Nesse momento de luto e indignação da comunidade negra, principalmente a quilombola de todo o país, a Coordenação da ADUNEB manifesta solidariedade aos familiares e amigas/os de José William Santos Barros, assassinado no domingo (27). Ele pertencia à Comunidade Quilombola do Alagadiço, localizada no município de Juazeiro, região Norte do estado da Bahia. Em 2014, o local foi o primeiro da cidade a conquistar, por meio da Fundação Cultural Palmares e sob mediação da UNEB, a certificação como Quilombola, de acordo com a Portaria 103, publicada no Diário Oficial da União.

Segundo relatos de testemunhas do assassinato, William, como era conhecido por todos na região, foi morto em uma estrada em frente à comunidade, com tiros nas costas, enquanto estava em pé em uma moto e conversava com colegas. Em nota divulgada à sociedade, o Conselho de Promoção da Igualdade Racial de Juazeiro (COMPIR) afirma, baseado em testemunhas, que o jovem teria sido assassinado pela Polícia Militar. De acordo com a nota, “Não houve qualquer possibilidade de diálogo, defesa ou anúncio de prisão. Ainda segundo os moradores, o corpo sumiu por uma hora, sem que fosse dada nenhuma satisfação para os moradores, que o encontraram no Hospital Regional da Cidade”.

O assassinato de Barros ocorreu apenas doze dias depois da trágica morte de mãe Bernadete, do Quilombo Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho (leia aqui). Ela era uma das lideranças nacionais da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombo (CONAQ), mesma entidade que alerta sobre o assassinato de 11 lideranças quilombolas na Bahia, na última década.

Relatos de moradores do Quilombo do Alagadiço afirmam que, após a morte de William, a comunidade está em estado de pânico. Enquanto a população aguardava o corpo para ser velado, na segunda-feira (28), pela manhã, homens em um carro estiveram na comunidade. Perguntaram sobre lideranças e gravaram vídeos do local.

Segurança pública desastrosa

A professora Márcia Guena, do Curso de Jornalismo do Campus de Juazeiro, desenvolve pesquisas no Quilombo do Alagadiço há 12 anos. Para a docente, o assassinato, mais uma vez, evidencia a política de segurança desastrosa do governo da Bahia. “Tem uma ação da polícia de assassinato, principalmente da juventude negra, nas periferias das cidades. As abordagens, quando têm abordagens, são violentas, forjam porte de arma, drogas. Tem dezenas de testemunhos que viram o ocorrido e sabem que ele (William Barros) não estava armado. Ainda segundo a professora, “é indignante ver uma comunidade que é tranquila, sem nenhum histórico de violência, a polícia entrar e tratar a juventude desse jeito”.

A ADUNEB soma sua indignação a de várias outras entidades que lutam por pautas progressistas e movimentos sociais para reivindicar a ampla e célere investigação do assassinato do quilombola William Barros. “Urge a necessidade de punição dos culpados com os rigores da lei. Mais um corpo quilombola é assassinado. Quantas vidas negras ainda serão ceifadas pela omissão ou pela participação do Estado? Reivindicamos uma política de segurança pública que defenda a comunidade quilombola, assim como toda a população negra, e que não compactue com o seu extermínio. Onde está o governo da Bahia diante de tantas mortes? O que a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado da Bahia tem feito?”, desabafou indignada a professora Iris Verena de Oliveira, Coordenadora da pasta de Gênero, Etnia e Diversidade da ADUNEB.  

Ações em defesa do povo negro

Em recente reportagem publicada pela seção sindical, referente ao aumento de 313% das mortes ocorridas em operações policiais na Bahia (leia aqui), o professor da Faculdade de Direito da UFBA, Samuel Vida apontou ações que possibilitariam minimizar o problema. Entre elas estão: imediata instalação de câmeras nos fardamentos dos policiais; criação de uma ouvidoria qualificada e independente para apurar as denúncias de ações policiais ilegais; criação de um Gabinete Emergencial de Crise, composto pelo governo e por movimentos sociais e pesquisadoras/es ligados ao tema; e, ainda, a criação de Comissões da Verdade e Reparação destinadas a apurar amplamente as denúncias de ilegalidades, restaurar a memória das vítimas e reparar financeiramente e simbolicamente as/os atingidas/os.

A professora Márcia Guena reforça a necessidade de restruturação da segurança pública estadual.  “A Bahia é campeã de homicídios no país, superou o Rio de Janeiro. Quer dizer: tem uma escalada de violência que precisa ser contida.  É violência do Estado contra o povo pobre e preto”. De acordo com a pesquisadora, é necessária uma política que restrinja a possibilidade de montagens de narrativas falsas para justificar os assassinatos cometidos por policiais. “Tem que ter uma jurisprudência que não permita mais esse tipo de narrativa. Uma punição imediata, retirada da polícia, tirar a arma, tirar de circulação, tirar da rua”. Márcia finaliza: “A gente precisa de uma política antirracista, o racismo está em primeiro lugar nessas abordagens. E não é pra ontem, é pra hoje”.