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Margaridas em Marcha pela Reconstrução do Brasil: ADUNEB Presente!



Os ônibus se enfileiravam a perder de vista na paisagem asséptica da Capital do Brasil. As placas indicavam suas origens, tão diversas quanto os grupos de mulheres que saíam deles e se movimentavam pelo Parque da Cidade, em Brasília, onde se concentraram, nos dias 15 e 16 de agosto, mais de 100 mil pessoas que participaram das atividades da 7ª Marcha das Margaridas. Mulheres do campo, das florestas e das águas estiveram unidas em um ato social e político, em luta “Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver”.

A ADUNEB se uniu a essas milhares de mulheres que honram, celebram e dão continuidade à luta de Margarida Alves, trabalhadora rural e sindicalista paraibana, assassinada pelo patriarcado em 1983. Com docentes de diversos campi da universidade, a Caravana ADUNEB, organizada pela professora Karina Salles, do Campus de Teixeira de Freitas, integrante da Coordenação Executiva da seção sindical, participou das atividades da marcha. Durante toda a terça-feira (15) foram realizados painéis, giras de conversa, oficinas, atividades lúdicas, assessoria jurídica, mostra de itens produzidos e/ou cultivados por mulheres de todas as regiões do país, apresentações artísticas, entre outras atividades. Para Karina, a presença na Marcha das Margaridas sinaliza o compromisso da ADUNEB com as diferentes lutas que atravessam o fazer sindical e docente, nos diversos espaços nos quais atua, reiterando a postura do sindicato em fomentar e ampliar essas discussões. 

Temas relevantes como direito aos territórios e maretórios, soberania alimentar, presença e atuação de mulheres na política, mulheres na agroecologia e violência contra as mulheres foram debatidas nas tendas do parque. Professora da UNEB em Paulo Afonso, Elilia Camargo enfatizou a importância da participação da Caravana ADUNEB na marcha. Para ela, “a presença neste evento é importante para as nossas lutas, principalmente, para renascer em nós mulheres a esperança de que a vida não pode ser banalizada e se tentarem destruir nossas presenças, reconstruiremos caminhos de existência”.

A diversidade tomava conta desses espaços de discussão. Era perceptível, também, uma energia única que deixava transparecer, em uníssono, nos abraços, nos encontros, nas trocas de experiências e nas falas, a satisfação de todas. Isso porque, depois de quatro anos de um governo fascista, de destruição do país e de políticas públicas para a população menos favorecida e de invisibilização das mulheres, estavam reunidas na capital do país e retomando os diálogos com as mais diversas instâncias do poder público. 

Pauta das Margaridas: reivindicações e avanços
Segundo Mazé Morais, Secretária de Mulheres da CONTAG e coordenadora da marcha, durante os últimos quatro anos foram inúmeros encontros e conversas com as mulheres organizadas em comissões, nas mais variadas localizações do país, dos roçados à beira dos rios, para discutir a pauta da Marcha das Margaridas, apresentada, no dia 21 de junho, ao Governo Federal.

A 7ª Marcha das Margaridas contou com a presença de Ministras e Ministros, deputadas(os), líderes sindicais e de movimentos sociais, formando um mosaico de diversidade. Na perspectiva de Crysna Bomjardim da Silva Carmo, da UNEB em Teixeira de Freitas, nesse momento em que o Brasil resgata seus princípios democráticos, a marcha encontra um “painel” de ministras cujas faces espelham o próprio movimento, com ministras pretas, caboclas, pardas, indígenas, com sotaques e origens diversas. “A esperança é que desse encontro político entre movimento e representações oficiais do Estado, nasçam ações efetivas cuja orientação parta de uma política de mulheres pensada por mulheres”, complementa a professora. 

As demandas foram recebidas e algumas sementes plantadas e cultivadas começaram a se desenvolver. No ano que marca quatro décadas do assassinato de Margarida Alves, o Senado aprovou, na manhã do dia 15 de agosto, a inclusão do nome da sindicalista no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. 

A discussão da pauta com ministérios também culminou na assinatura do Presidente Lula de importantes decretos às demandas da pauta das Margaridas, que visam o desenvolvimento e a reconstrução do país e das políticas públicas para as mulheres. Foram eles: a instituição dos Quintais Produtivos para Mulheres Rurais; o Decreto sobre a seleção de famílias e retomada da reforma agrária; a instituição da Comissão de Enfrentamento à Violência no Campo, dos programas de Cidadania e Bem Viver para as Mulheres Rurais, do Grupo de Trabalho Interministerial para o Plano Nacional da Juventude para Sucessão Rural e do Pacto Nacional de prevenção aos feminicídios; e as retomadas da Política Nacional para os Trabalhadores Rurais Empregados e do Programa Bolsa Verde, de apoio à conservação ambiental. 

O Mar de Margaridas

“Pela Reconstrução do Brasil
E pelo, pelo, pelo bem viver
Seguiremos em marcha
Atentas e fortes
Seguiremos eu e você”

Essas palavras ecoaram na voz de mais de 100 mil mulheres, um verdadeiro mar de margaridas lilases, que tomaram as ruas de Brasília em marcha rumo à Praça dos Três Poderes na manhã de 16 de agosto. Organizadas por regiões e estados, elas demonstravam a força, a potência, a coragem, a determinação e a diversidade feminina do País. O hino da marcha, cantado nos sotaques, nos instrumentos, nos tons e nos ritmos mais diferentes; entremeado por frases de luta, reivindicação, gritos de guerra; entoado por mulheres com faixas, bandeiras, balões, muitas delas com roupas e adereços que refletiam as culturas de cada região brasileira, com criatividade e representatividade; mudou a paisagem desértica, dura e seca do centro nacional do poder.

A ADUNEB marcou presença com suas margaridas marchando, de bandeiras em punho, integrando esse grande coletivo. “Atravessamos estados, encaramos muitas horas de viagem, para marchar com mulheres do campo, das águas e das florestas de todo o Brasil e juntar as nossas vozes às delas, para fortalecer os gritos pelas demandas, dentre elas, o combate à violência contra as mulheres e a necessidade de políticas públicas considerando as especificidades dos territórios e maretórios das Margaridas”, comentou Karina Salles, da coordenação da seção sindical. 

Após percorrer 6km em caminhada, sob o sol quente do final da manhã, a multidão de margaridas se reuniu para o encerramento e aguardava o pronunciamento do Presidente Lula na expectativa de ter suas demandas atendidas e/ou encaminhadas. Nem o cansaço dos dias na estrada, da programação intensa, da caminhada, nem o clima seco e a poeira de terra vermelha que pairava no ar foram capazes de desarticular o mar lilás que ali estava, sacudindo seus chapéus de palha para o alto, à espera do final da marcha. 

Determinação e resistência reconhecida pelo Presidente Lula logo no início de sua fala, ao afirmar que “os golpistas podem matar uma, duas ou três margaridas, mas jamais resistirão à chegada da primavera”. Lula destacou a importância de assinar os decretos que, segundo ele, convergem para a autonomia econômica e inclusão produtiva das mulheres rurais a retomada da reforma agrária, segurança, saúde e direitos das mulheres, e apontou para os avanços necessários rumo à reconstrução do Brasil pelo qual lutam as Margaridas. 

Karina Salles destacou que ter marchado com esse coletivo de mulheres de todo o país e com suas/seus companheiras(os) da ADUNEB foi uma experiência que continuará reverberando nas vivências e práticas. “Somos Margaridas, também, e seguiremos semeando e florescendo, mesmo que sejam áridos os caminhos. Sigamos em marcha, espalhando sementes de resistência, porque a luta só se fortalece via coletividade”, finalizou a coordenadora da Caravana ADUNEB. 

Encerrada oficialmente a Marcha das Margaridas de 2023, as caravanas retornaram às suas cidades, deixando articulações políticas, posicionamentos sociais e sua mensagem de resistência e luta a todo o Brasil!