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Povos ciganos – a luta histórica contra o preconceito e por cidadania



 Um povo milenar, perseguido, estigmatizado por sua cultura, e que traz no sangue o orgulho da ancestralidade e a resistência dos antepassados. Embora ainda sofram um preconceito secular e estejam distantes das condições almejadas de cidadania, os povos ciganos têm avançado na conquista de direitos. 

Pesquisadora sobre a população cigana, a professora Laudicéia da Cruz Santos é mestra em Educação e Diversidade, pelo programa MPED/UNEB do Campus de Jacobina, e atua como docente no mesmo município, no Centro Territorial de Educação Profissional do Piemonte da Diamantina II. Para ela, devido às diferenças e especificidades, não há como pensar em comunidades ciganas no Brasil. “O mais coerente seria falarmos em contexto dos povos ciganos no país”, explica a professora.

Os povos ciganos chegaram no país a partir de 1574, por meio da colonização portuguesa. Três comunidades Romani são representativas no território nacional: os Rom (originários da ex-Iugoslávia, Sérvia e de outros países do Leste Europeu), os Calon (que vieram da Espanha e de Portugal) e os Sinti (vindos da Alemanha, Itália e França). Para a professora Laudicéia, apesar das especificidades que devem ser respeitadas, em comum a todas está a árdua luta contra o racismo, o preconceito e a discriminação. 

É difícil traçar o perfil da população cigana no país. O IBGE, por exemplo, não realiza estudos específicos sobre o tema. A falta de dados oficiais já é uma evidência de o quanto essa parcela do povo brasileiro tem sido historicamente invisibilizada.

Preconceito

Segundo Laudicéia Santos, o cenário político brasileiro ainda tem demarcado fortemente o aumento do anticiganismo e da romafobia. “O preconceito persiste, é muito grande. Também pelo nível de desinformação de alguns grupos ciganos no sentido de combater, mas, essencialmente, pelo desconhecimento e as falsas estereotipias construídas pelos não ciganos contra os povos ciganos”, afirma. 

Apesar dos problemas, a docente salienta que no contexto social houve avanços. “Os programas de assistência voltaram a funcionar e a fazer busca ativa, porque há uma exigência de cumprimento do controle da participação social, o que acaba se ampliando. O que não quer dizer que tudo tem sido feito com tamanha qualidade; no que se refere a participação social, pouquíssimas são de fato relevantes nesse contexto”, explica Laudicéia Santos. 

Conquistas

Por questões relacionadas ao nomadismo, muitas vezes como consequência do preconceito social, da expulsão de territórios e outras perseguições, o povo cigano tem dificuldades em frequentar regularmente a escola. Como consequência, a baixa formação, aliada à falta de oportunidades, faz com que o número de ciganas/os nas universidades seja reduzido. Assim, as políticas afirmativas, a exemplo das cotas para os povos ciganos implementadas pela UNEB, em julho de 2017, são fundamentais. 

Estudante do Curso de Medicina da UNEB de Salvador, Brenna Carolaine Lopes Vaz afirma que, embora tenha casado muito cedo, uma característica da tradição cigana, sempre se dedicou aos estudos. “Aos 17 anos eu casei, mas mesmo assim continuei estudando em casa mesmo até conseguir passar no vestibular”. Embora as cotas sejam uma conquista, Brenna afirma conhecer poucas/os ciganas/os em cursos universitários. Segundo dados da Secretaria Especial de Avaliação Institucional (SEAVI), a UNEB possui atualmente oito ciganas/os na graduação e nenhum na pós-graduação ou em curso EAD.

Desafios

Brenna relata que um dos maiores desafios para a população cigana mais jovem é a falta de oportunidades no mercado de trabalho em postos superiores à subempregos. “Além disso, são escassos os programas governamentais que incluem os ciganos no âmbito da saúde e da educação. Sem falar a falta de debates nos municípios sobre formas de assegurar e incentivar os jovens ciganos a se manterem na escola”, comentou a futura médica.

Quanto à educação escolar formal, a professora Laudicéia Santos aponta alguns entraves à questão. Ela explica que em função dos laços e formações familiares dos ciganos terem bastante relevância em suas vidas, por vezes ocorre uma relação tensa entre educação escolar e educação familiar. O problema ainda é agravado pela persistência da “educação escolar pautada na não valorização e inclusão dos povos ciganos nos projetos políticos pedagógicos e currículos escolares, através de um diálogo com maior proximidade com os povos ciganos”.

Sobre o aumento ainda tímido das/os ciganas/os nas escolas e universidades, Laudicéia analisa que o crescimento exponencial só ocorrerá quando for desenvolvido um trabalho articulado entre os povos ciganos, a educação básica, a universidade, a sociedade civil e o poder público.

Respeito à diversidade

Para além das pautas relacionadas à defesa dos direitos da categoria docente e da educação pública superior, a ADUNEB tem como uma de suas diretrizes a luta pela diversidade e pelo respeito às comunidades historicamente oprimidas. Coordenadora da pasta de Gênero, Etnia e Diversidade da seção sindical, Iris Verena Oliveira, reforça que a luta dos povos ciganos por seus direitos tem sido acompanhada pela ADUNEB. “Seguimos dialogando em prol da diversidade e atuando na luta contra as opressões dos povos ciganos e na defesa pelo direito à vida”. A partir de agosto de 2021, a seção sindical foi obrigada a enfrentar uma séria de batalhas judiciais como retaliação a uma nota de solidariedade a comunidade cigana, que sofria violência policial na região rural de Vitória da Conquista (leia aqui).