Assim como em todo o país, após um período de queda no número de casos de Covid-19, na Bahia, as incidências voltaram a subir e causar preocupação. Os dados mostram que o crescimento, entre outros aspectos, pode estar ligado à flexibilização dos protocolos de combate aos vírus, a exemplo da desobrigação do uso das máscaras, além do fato de parcela da população estar com o quadro vacinal incompleto.
Um comparativo dos dias 14 de maio e 14 de junho evidencia que o número de casos de Covid-19 no estado da Bahia saltou de 147 para 952, um aumento de 647,6%. A média móvel de sete dias também cresceu de 201 para 612, o que representa um crescimento de 304,4%. Na última quarta-feira (15), foram registradas 3.416 pessoas com vírus ativo da Covid em todo o território baiano. Os números têm como fontes a Secretaria Estadual da Saúde e JHU GSSE Covid-19.
A diretora da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), Márcia São Pedro, em depoimento ao podcast do G1 “Eu te explico", feito em 13 de junho, informou que mais de 8 milhões de baianos estão com o processo vacinal incompleto. O quadro é agravado por cerca de 1 milhão de pessoas no Estado ainda não terem tomado nem a primeira dose.
A professora da UNEB, doutora em Saúde Pública/Epidemiologia, Lilian Marinho, reforça que o aumento da incidência dos casos de Covid-19 não pode ser conferido a uma única causa. Ela atribui a um somatório de fatores, entre esses, a desobrigação do uso de máscaras, o número de pessoas ainda sem vacina ou com o processo incompleto e a insuficiência no acesso à testagem laboratorial. Para a pesquisadora, os dados do CDC – Europa e do Painel Interativo do Ministério da Saúde, que mostram o comportamento da pandemia no mundo, já evidenciavam o aumento do número de novos casos no mundo, mesmo que em velocidades diferentes conforme os países, estados e regiões.
Um vírus é para não ter
Após a disseminação da vacina e o aparecimento da atual variante Ômicron, que as pesquisas mostram ser um vírus com menos agressividade, porém de alta infectividade, passou a ser propagado na sociedade que a atual Covid havia se tornado “apenas uma gripe”.
De acordo com Lilian Marinho, a afirmação causa preocupação. “Não dá para prever o que vai acontecer no organismo da pessoa infectada. A vacina diminui a gravidade da infecção, mas não tem como evitar possíveis sequelas. Os relatos dos efeitos crônicos da pandemia começam a ser divulgados, entre esses, há a destruição de grupos de neurônios, que dá origem a problemas neurodegenerativos e acidentes vasculares cerebrais. Acompanho a afirmação do cientista Miguel Nicolelis: ‘Este é um vírus para não ter’ “.
Novas variantes
Lilian Marinho traz ainda a preocupação com as novas variantes do SARS-CoV-2 e a atual falta de estrutura laboratorial para a vigilância permanente da questão. “É importante verificar se as novas variantes apresentam maior capacidade de disseminação, se provocam quadros mais graves da doença, se não interferem nos testes de diagnóstico, se possuem menor suscetibilidade aos tratamentos e se conseguem driblar a imunidade natural do hospedeiro ou aquela induzida por vacina. Na Bahia, assim como no Brasil, circulam mais de uma dezena de linhagens dos genomas identificados”, explica a docente, que tem como fonte a Rede Genômica Fiocruz.
Cautela e cuidados
O atual período de junho, que inclui férias, viagens e festas, seguido pelo início da campanha eleitoral dos próximos meses, é outro fator de preocupação e que exige cautela. A professora Lilian Marinho defende que o cenário de emergência sanitária precisa ser mantido. “Análises evidenciaram que, no Brasil, a segunda onda da Covid-19 ocorreu sincronizada com a campanha eleitoral de 2020. Nos próximos meses, teremos as eleições no país, o que poderá alterar o cenário epidemiológico. Se, por um lado, é possível dizer que o pior já passou, temos que reafirmar que a pandemia não acabou”, alertou a especialista em epidemiologia.