CEPAIA: ato denuncia que tentativa de expulsar da sede é racismo estrutural e gentrificação
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O Centro Histórico de Salvador foi marcado por um ato que reforçou o poder da ancestralidade, união e resistência do povo preto e indígena. Várias representações de movimentos sociais, da sociedade civil e apoiadores da causa realizaram, na última sexta-feira (08), uma mobilização para reivindicar a permanência do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (CEPAIA/UNEB) em sua sede, no Santo Antônio Além do Carmo. Sob a suposta alegação de subutilização do local, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) tenta expulsar o CEPAIA do prédio.
Segundo a coordenação do CEPAIA, há 22 anos, a entidade atua no imóvel, espaço em que realiza eventos educacionais e culturais, seminários, palestras, projetos de pesquisas e cursos de pós-graduação, a exemplo do Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos, povos Indígenas e Culturas Negras (PPGEAFIN). São atividades que contribuem para a valorização das identidades dos povos preto e indígena e, por conseguinte, para o seu fortalecimento. O ato denominado “#FicaCepaia!” teve a mobilização iniciada pelas redes sociais e o apoio de 12 organizações dos movimentos sociais.
Para o representante do Coletivo Resistência Preta, Adriano de Andrade, a tentativa de expulsão do CEPAIA faz parte de um processo de gentrificação do Centro Histórico. Uma ação em que a população que está à margem da sociedade, as comunidades negras e empobrecidas, acaba sendo excluídas desses territórios. “O CEPAIA é um espaço que agrega essa população e intelectuais negros que produzem conhecimento. Entendemos a expulsão como mais uma ação efetiva do racismo estrutural da sociedade, do racismo institucional”, afirmou Andrade.
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Prof. Cléber Julião, Coordenador Jurídico da ADUNEB,
fez pronunciamento em apoio ao CEPAIA
Representante do Centro Cultural que Ladeira é Essa? e do movimento Articulação do Centro Antigo, Nilma Santos, ressaltou que a reivindicação pelo direito aos espaços dos povos oprimidos é uma ação de resistência. “Nossa história é ancestral. Então, temos o direito de resistir em nosso território. A gente percebe que, diariamente, tentam nos destituir de nossos espaços. O CEPAIA é um instrumento de estudos dos povos negro e indígena, de nossa ancestralidade. A gente não tem um dia de paz, mas estamos aqui para resistir!”, ressaltou a líder comunitária.
A denúncia de gentrificação do Centro Histórico foi reforçada por Paulo de Almeida Filho, do movimento Agência de Notícias da Favela. “É um processo de exclusão e que não vem de agora. O CEPAIA é um espaço de educação, que agrega conhecimento, troca de informações. O que a gente percebe é que esses espaços, cada vez mais, vão sendo cerceados da população como um todo. Temos que mostrar a importância que o CEPAIA tem na vida, no conhecimento e na mobilização da cidade de Salvador. A iniciativa do ato foi para que possamos fazer uma trincheira de resistência e de resiliência”.
A ADUNEB esteve presente no ato, representada pelas professoras Flávia Lorena Araújo e Irê Oliveira e pelo professor Cléber Julião. Segundo Irê Oliveira, coordenadora da pasta de Gênero, Etnia e Diversidade, a seção sindical tem como uma de suas missões enfrentar toda e qualquer força que se movimente em direção contrária à garantia de direitos já constituídos do corpo docente da UNEB. “O CEPAIA é um dos centros de estudos por meio do qual pesquisadoras e pesquisadores da universidade realizam projetos de pesquisa e extensão voltados para as questões étnico-raciais”. A professora Irê refutou a suposta subutilização do espaço e destacou, como exemplo, o XIX Simpósio Internacional Processos Civilizadores, projeto apoiado pela ADUNEB, a ser realizado em novembro próximo, na sede do CEPAIA.
Participaram da organização do ato as entidades dos movimentos sociais Enegrecer, Coletivo Incomode, A voz do Axé, Coletivo Resistência Preta, Centro Cultural Que Ladeira é Essa?, Agência de Notícias das Favelas, Revista Aglomeradores, MSTB, Swing do Pelô, Quimtaci, Projeto Revivart, Articulação do Centro Antigo e a Ouvidoria da Defensoria Pública.
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