Cacique Babau é homenageado pela UNEB e critica o PL do Marco Temporal
Um justo reconhecimento à história de luta, coragem, defesa da natureza e dos povos originários. Assim foi a cerimônia do Conselho Universitário da UNEB que concedeu o título de Doutor Honoris Causa a Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau Tupinambá, realizado na quarta-feira (30).
Na solenidade virtual presidida pelo Reitor José Bites, além de conselheirxs da UNEB, demais representantes da comunidade acadêmica da Instituição e deputados estaduais, estiveram presentes várias autoridades.
Cacique Babau é líder do povo Tupinambá da região da Serra do Padeiro, localizada entre Ilhéus, Una e Buerarema, região sul da Bahia. A coragem e a incessante disposição em defesa da sua comunidade levaram o líder indígena ao reconhecimento internacional. Entre os atos sob sua liderança está a retomada de 22 fazendas, das 90 que foram tomadas por invasores de Olivença, região de Ilhéus.
As ações de Babau despertaram a fúria dos empresários do agronegócio e do Capital. Assim, buscam estratégias para a criminalização de seus atos e, injustamente, já conseguiram prendê-lo por quatro vezes. Ele e seus familiares também sofrem constantes ameaças de assassinato. A perseguição ao líder dos Tupinambá fez com que entidades dos Direitos Humanos mundiais cobrassem de autoridades brasileiras medidas de proteção a Babau.
Visivelmente feliz e emocionado, o homenageado apresentou-se na solenidade da UNEB com uma vestimenta confeccionada por sua irmã Glicélia da Silva, a partir penas de pássaros. Com a roupa que simbolizava a liberdade, o cacique comentou a importância da homenagem: “Quando recebo o título Honoris Causa, isso significa que a academia está olhando para nossos conhecimentos, para nossos saberes. Isso vai dar força para outros povos para conseguirem trilhar esse caminho, saber que vale a pena defender a natureza, defender a vida, defender o outro. Nós não desistiremos jamais de nosso território, de nossa luta”.
Não ao PL 490 e ao Marco Temporal
Cacique Babau aproveitou a ocasião para criticar os parlamentares da bancada ruralista que tentam aprovar, no Congresso Nacional, o Projeto de Lei 490/2007 que altera a legislação da demarcação de terras indígenas. Entre outras questões, o PL propõe o Marco Temporal, norma que reconhece como terras indígenas apenas aquelas que estavam em posse dos povos originários até a data da promulgação da Constituição de 1988.
“Esse PL está querendo tirar um direito precioso, que é o direito à memória do povo. Quem é que vive sem memória dos seus antepassados? Quem é que vai construir saberes futuros sem uma história que conta seu passado? Como que os direitos dos povos indígenas passarão a valer só a partir de 88 (ano da Constituição brasileira)? E a degradação, as expulsões, as violências que tiraram tanta gente de suas terras?”, finalizou o cacique Babau.