Doutor Honoris Causa da UNEB: reconhecimento da luta do Cacique Babau
Este é um dos momentos mais difíceis da história recente dos povos indígenas no Brasil, com graves ameaças legislativas e judiciárias aos seus direitos reconhecidos na Carta Magna de 1988. Destacam-se invasões criminosas de mineradores, latifundiários e empreendimentos imobiliários em Terras Indígenas em todo o país - muitas delas já devidamente demarcadas. Esses fatos são acobertadas e mesmo patrocinados pela omissão e pelos discursos racistas de representantes do próprio Estado.
A comunidade indígena se notabilizou nos últimos vinte anos pelo empreendimento bem sucedido das "retomadas", ações diretas de recuperação de parcelas das terras tradicionalmente ocupadas pelos Tupinambá que lhes foram usurpadas ao longo do século XX. Apesar de não contarem ainda com um território demarcado, as "retomadas" empreendidas pela comunidade têm sido mantidas liminarmente pela Justiça, em reconhecimento inicial ao seu legítimo direito. Outra destacada atividade da comunidade é a promoção de uma agricultura orgânica totalmente sustentável e que garante autonomia alimentar e a produção de excedentes para o mercado. A merenda escolar da escola indígena é produzida localmente e a escola é uma terceira iniciativa bem sucedida dos Tupinambá da Serra do Padeiro, oferecendo educação indígena diferenciada e de qualidade reconhecida, apesar das grandes limitações estruturais que ainda enfrenta.
Nesse contexto, a UNEB outorga título de doutor 'honoris causa' a um dos mais expressivos e combativos líderes indígenas atuais, no Brasil e na Bahia, o Cacique Babau (Rosivaldo Silva), da comunidade da Serra do Padeiro, do povo Tupinambá. O saber do nosso novo Doutor é, pois, um saber para a organização comunitária, para a produção autônoma e sustentável, para a valorização dos saberes e da autoestima indígenas e, enfim, um saber para a luta política em prol de justiça social e do reconhecimento da diversidade cultural brasileira.
A ADUNEB, de acordo com seu compromisso de defesa da vida e dos direitos de todx cidadão e cidadã brasileiros, articula-se com os movimentos sociais, de modo geral, e, em especial com o movimento indígena para o enfrentamento do genocídio indígena em curso e das demais questões que afetam a todos nós, indígenas e não indígenas. Dessa forma, orgulha-se de ter aprendido e contado com a participação do Cacique Babau e de outros representantes dos Tupinambá em nossos eventos, a exemplo do Fórum Social Mundial em Salvador, em 2018, e da convergência na luta pela educação durante a nossa greve em 2019.
A cerimônia de outorga do título ocorrerá em sessão especial do Conselho Universitário (CONSU), nesta quarta-feira (30), às 19h.