Notícias

Políticas neoliberais levam o país novamente ao Mapa da Fome mundial



 Políticas públicas de combate à fome, de geração de emprego e de auxílio às famílias de baixa renda, iniciadas no Brasil a partir de 2003, colocaram o Brasil em evidência. O ápice, em 2014, foi a saída do país do Mapa da Fome mundial, um relatório realizado pela ONU, por meio da Organização para Agricultura e Alimentação, que relaciona os países em que mais de 5% da população vivem em estado de desnutrição. Naquele período, cerca de 50 milhões de brasileirxs saíram da extrema pobreza.

Porém, desde o início do período do presidente Michel Temer e da intensificação das políticas neoliberais que priorizam o capital, o mercado financeiro e atuam no desmonte do estado, o retrocesso social e a fome voltaram à mesa. Com o governo de extrema direta e ultraliberal de Jair Bolsonaro, agravado pela pandemia do novo Coronavírus, o país voltou a ter índices próximos aos identificados antes de 2004.  
 
Dados do IBGE relacionados à fome dxs brasileirxs apontam que, ainda no período Temer, o Brasil voltou ao Mapa da Fome. Os números evidenciam que, em 2004, a insegurança alimentar grave da população era de 8,2%. Com a intensificação dos programas sociais, em 2009, o índice caiu para 5,8%. A continuidade do projeto fez, em 2013, a insegurança alimentar reduzir para 3,6% da população. Porém, os últimos dados do IBGE (2017/2018), divulgados no segundo semestre de 2020, denunciam o retrocesso com o índice que impactou novamente 5% dxs brasileirxs. Assim, conclui-se que a fome voltou a assolar os lares de 10,3 milhões de pessoas no país. A pesquisa não inclui a população em situação de rua, estimada pelo IPEA, no ano passado, em mais de 220 mil.
 
Segundo o IBGE, a insegurança alimentar grave significa a redução quantitativa de alimentos entre os adultos e crianças e/ou ruptura dos padrões de alimentação. Conceitualmente é nessa perspectiva que se afirma concretamente a existência da fome. 
 
É importante ressaltar que os dados são anteriores ao período Bolsonaro. Com as medidas adotadas pelo presidente de extrema direita, cortes de programas sociais, ataques aos direitos da classe trabalhadora, somados à pandemia, o problema tornou-se ainda mais grave. 
 
Entre outras medidas de Bolsonaro que contribuíram para o aumento da fome está o desmonte do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar. O projeto consiste em comprar alimentos produzidos exclusivamente pela agricultura familiar e destiná-los às famílias carentes ou programas de assistência social. Em 2012, o investimento foi de R$ 587 milhões. Número que contrasta com 2019, período em que o recurso caiu para apenas R$ 41 milhões. Assim, privilegiou a agroindústria de exportação, sabotou os pequenos agricultores, que caíram de 128.804 para 5.885, e fez aumentar a fome entre xs desfavorecidxs. 
 
Com a falta de incentivo para os programas sociais, a situação das famílias de baixa renda tornou-se tão grave que, no final de setembro de 2020, após o término do primeiro auxílio emergencial, a fila de cadastro de espera pela inclusão no programa Bolsa Família possuía cerca de 1 milhão de famílias.
 
Quanto a um quadro mais recente da fome no país, o ex-diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (2012 / 2019), José Graziano, divulgou uma análise em vários veículos de imprensa, em setembro do ano passado. “Se fizermos uma simples projeção linear, ou seja, se admitirmos que essa tendência de crescimento verificada a partir de 2013 se manteve, os números em julho de 2020 alcançariam algo como 6,6% da população brasileira de 213 milhões de habitantes, ou seja, cerca de 15 milhões de brasileiros estariam passando fome, hoje!”.
 
Dessa forma, para além das questões relacionadas aos direitos dos trabalhadores e ao arrocho salarial na maioria das categorias profissionais, três questões mobilizam as entidades de classe: o fascismo, a pandemia e a fome.