Câncer de mama: orientar e prevenir para combater
O câncer de mama é um tema tão importante que não pode ter a atenção da sociedade e a visibilidade da mídia apenas neste mês em que as ações estão voltadas ao "Outubro Rosa". No Brasil, para cada ano do triênio 2020 – 2022, estima-se 66.280 novos casos de câncer de mama. É a segunda maior incidência de câncer em mulheres no país, após os tumores de pele não melanoma. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (INCA), do Ministério da Saúde.
Prevenção
Segundo especialistas na área, o melhor caminho no combate é a orientação e a prevenção. De acordo com a médica ginecologista, obstetra e professora do Curso de Medicina da UNEB, Eliane Menezes Flores Santos, entre os principais fatores de risco estão o tabagismo, a obesidade, o sedentarismo e o histórico familiar de 1º grau. Além disso, mulheres que não tiveram filhos também apresentam maior incidência. O Ministério da Saúde recomenda a realização de mamografia, para rastreamento do câncer de mama, a cada dois anos, para mulheres entre 50 e 69 anos.
Embora a incidência de câncer de mama não seja distinta entre classes sociais, a doença tem maior impacto e maior mortalidade em pacientes de renda mais baixa. “O acesso ao tratamento precoce, uma vez diagnosticado o câncer de mama, passa pela dificuldade da paciente de baixa renda em obter acesso aos serviços da rede SUS, quando sabemos que ele (o tratamento) deve ser iniciado em, no máximo, 60 dias”, explica a Drª Eliane Santos.
Uma das recomendações a quem encontrar qualquer alteração na mama é procurar o mais rápido possível um especialista em mama (mastologista). Porém, como existe dificuldade de acesso na rede pública de saúde, a orientação é procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima da sua residência para que possa ser avaliada e encaminhada, quando indicado, para um/a especialista via Sistema de Regulação.
Autoexame
Nas últimas décadas, a mídia tem difundido a importância do autoexame da mama. Porém, as diretrizes do Ministério da Saúde e o INCA fazem recomendação contrária ao ensino do autoexame como método de rastreamento do câncer de mama. A também ginecologista, obstetra e docente do Curso de Medicina da UNEB, Ana Gabriela Travassos, nos ajuda a entender essa questão. Para a médica, o Ministério da Saúde não é contra o autoexame como método de autoconhecimento, como forma de observação, mas sim como rastreamento do câncer.
Para Ana Travassos, o melhor rastreamento para o câncer de mama é a mamografia, respeitando as indicações de faixa etária do Ministério da Saúde, pois consegue identificar de maneira precoce a lesão do câncer. “Esta (prática do autoexame) não é a melhor forma de rastreamento, porque ao identificar uma lesão, um nódulo, a gente já tem uma doença de certa forma avançada. O ideal é que consigamos encontrar o câncer de mama precocemente, antes dele assumir o tamanho de um tumor que possa ser encontrado por essa mulher”, explicou a professora. A doutora Ana Travassos ressalta ainda que nem todo nódulo ou tumor encontrado no autoexame, incluindo em homens, é um câncer. A grande maioria dos nódulos de mama é uma lesão benigna.
Trans e homens
As recomendações de rastreamento para os homens transexuais que não realizaram a extração dos seios (mastectomia) são as mesmas das mulheres cisgêneros (sexo e biologia alinhados ao gênero ao qual se identificam). No caso dos homens cisgêneros e mulheres transexuais, segundo o Ministério da Saúde, não existem ainda protocolos para rastreamento. Em caso de alterações mamárias o recomendado é procurar um/a médico/a.
Saúde Pública
Quanto aos programas de combate ao câncer de mama, realizados tanto pelo governo federal quanto estadual, para a Drª Ana Travassos, seria necessário um planejamento em saúde, para proporcionar um programa de prevenção adequado em todas as etapas. Porém, o que se constata na prática está distante desse cenário. “O rastreamento vem sendo realizado de forma oportunística através de campanhas, realizado pontualmente um grande número de mamografias, porém com pouca resolutividade dos casos suspeitos”. Ainda segundo as especialistas, a dificuldade de acessar outros níveis de complexidade da assistência, na rede pública, para confirmar ou descartar a suspeita de câncer de mama é uma dura realidade que tem levado, em algumas situações, mulheres à morte, plenamente evitável.