A quem interessa se associar com a marcha da morte?
Já é de conhecimento do reino mineral em todo mundo que o Brasil não está enfrentando a pandemia da Covid-19 de modo satisfatório. A cifra de infectados aqui ultrapassa mais de 1,5 milhões e o número de óbitos se aproxima das 70 mil pessoas, respondendo por mais de 10% das mortes registradas da enfermidade em todo o planeta. É verdade que “os números” atingem de modo distinto estados e municípios, contudo, um fato não muda: o país inteiro patina em estabelecer uma coesão para controle da curva de transmissão de um vírus altamente transmissível que ainda não conhece vacina nem tratamento terapêutico de eficácia assegurada.
Há cerca de quatro meses aqui soou o alerta, escarnecido por um desgoverno federal de lunáticos e neofascistas, da gravidade desta pandemia e da necessidade de medidas inusuais, como o isolamento social, para evitar o colapso do sistema de saúde e proteger vidas. De modo razoável, poder-se-ia imaginar que neste tempo medidas e comportamentos seriam adotados para controlar com maior eficiência a dimensão da situação com que se lida(va). No entanto, não é isso que os dados e a realidade hoje atestam. A passagem do tempo não engendrou sequer atenuantes tranquilizadores.
No âmbito da Educação Pública e em especial das Universidades Públicas, seria um atestado de profundo envolvimento com o obscurantismo e completo descompromisso com a ciência, os saberes e a busca pelo conhecimento requerer ou desejar uma retomada em tom de ‘nova normalidade’, num contexto desta natureza, sem o devido planejamento. Aqui é preciso ser duro e lembrar que a tolice, todavia, insiste sempre nela mesma. Alguns chegam mesmo a acreditar, provavelmente até com boas intenções, que um retorno às atividades é necessário para não prejudicar calendários, planos e sabe-se lá que esperanças depositadas na ideia de que o importante é voltar a funcionar.
Mesmo uma retomada por vias remotas, típicas dos métodos de ensino à distância e todas as especificidades, carências e deficiências que eles abrangem, exige um enorme esforço prévio de diagnóstico, formação e oferta das estruturas e equipamentos que a viabilizem de maneira democrática, sem alijar nenhum(a) docente, discente ou servidor técnico-administrativo.
No caso da UNEB é evidente que este não é um problema de menor dimensão. Universidade com a marca da inclusão social, temos um corpo de alunos composto em sua maioria por jovens das camadas populares que já enfrentam muitas dificuldades para conseguir dar conta de suas atividades acadêmicas regulares. De famílias humildes, boa parte destes jovens não conta com computadores ou acesso à internet banda larga. Já pelo lado dos docentes, para ficar apenas numa questão técnica, uma grande parte também não domina os dispositivos tecnológicos necessários para ministrar aulas com mediação tecnológica.
Neste cenário, faz-se necessário, acima de tudo, prudência para não tomar decisões precipitadas em favor de ações que logo adiante fatalmente se demonstrarão inconsequentes, desiguais e injustas. É necessário que as professoras e professores se empenhem em discutir com seus departamentos a necessidade de realização de um apurado diagnóstico das condições atuais, a fim de construir soluções bem amarradas e adequadas em qualquer passo a frente que se venha dar.
A direção da ADUNEB compreende que é preciso colocar desejos e interesses particulares de lado e, mais que nunca, faz-se fundamental construir caminhos costurados e consensuais a partir da predominância do espírito da colaboração mútua.