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DISCURSO DE POSSE DA COORDENAÇÃO ADUNEB



 Mais uma vez na história somos todas e todos desafiados a defender um dos principais patrimônios do povo baiano: a nossa querida universidade. Em todos esses momentos a ADUNEB foi um dos principais instrumentos de nossa luta. 

Nesse momento, no entanto, temos uma particularidade. Vivenciamos uma grande contradição na Bahia em ter um Governo de origem popular – resultado da luta de cada um de nós, resultado do nosso trabalho, na universidade, que é de formação de consciências, resultado do trabalho realizado na UNEB e nas demais universidades estaduais, presente em quase todos os territórios de identidade da Bahia. 
 
É com muita tristeza que estamos sofrendo a implementação de ações que possuem cunho neoliberal, dado que está caracterizando um Estado mínimo para as políticas sociais na Bahia.  Não digo isso pelo puro prazer de criticar, digo pelo senso crítico que busca a raiz das questões e que levou muitos de nós à militância política, sonhando com um Brasil, com uma Bahia melhor.
 
Essa contradição se agrava frente ao contexto nacional de golpe jurídico, parlamentar e midiático. Se o Governo tem suas dificuldades nesse contexto – compreendemos - imaginem nós, que fazemos as universidades baianas, que somamos as dificuldades decorrente do contexto, de ataque aos pilares da democracia (incluindo os sindicatos, as universidades, o movimento docente) às dificuldades enfrentadas com nossos outrora companheiros de luta, muitos oriundos do movimento sindical.
 
Parece que não há compreensão, por parte de muitos no Governo, sobre a importância da universidade brasileira, sobre a importância da universidade pública na Bahia, sobre a importância da maior universidade multicampi do Brasil: a UNEB. Devemos dizer, sem sombra de dúvida, que a UNEB contribuiu para acabar com o coronelismo na Bahia porque diminuiu a ignorância, porque influenciou na dinâmica dos municípios em que está presente, porque formou professoras e professores e demais profissionais no interior do nosso estado.
 
Se, no Governo, permanece a intencionalidade de redução da pobreza e de enfrentamento das desigualdades sociais, esse processo não pode prescindir da universidade. Podemos dizer que, no mínimo, não é inteligente porque a universidade é, historicamente, espaço de resistência e, principalmente, porque a ilusão de aliança com a burguesia é volátil e nós aprendemos recentemente com a dor do impeachment de uma presidenta eleita pelo povo, de forma injusta e antidemocrática, desmascarando a luta de classes.
 
O enfrentamento das desigualdades sociais e a defesa da soberania nacional não se dão sem a valorização da ciência para a produção de conhecimentos endógenos, sem a formação do povo com qualidade, portanto, necessita da valorização da universidade, da ciência e da tecnologia. Não se pode olhar a universidade com as regras de funcionamento do mercado, não se pode analisar o social a partir de números, como querem os organismos multilaterais, a exemplo do Banco Mundial. A UNEB não é um bem de capital, é uma instituição pública, é patrimônio do povo baiano.
 
Governos como o nosso, que não se originou na classe dominante, tornam-se vulneráveis quando viram as costas para os movimentos sociais, para os sindicatos e para as universidades públicas. A história recente nos mostra com clareza o resultado da ausência de uma aliança forte com as organizações direcionadas à defesa dos interesses dos trabalhadores. 
 
A punição que nos foi dada por causa do exercício do protesto em relação às dificuldades de funcionamento da universidade, com corte nos salários, de uma só vez, atacou o sindicato, o Movimento Docente e a universidade. Por outro lado, atiçou os trabalhadores dessas universidades que se encontram indignados. Lembramos que tivemos coragem de enfrentar o carlismo para construir o PT e demais partidos de esquerda, estamos reagindo ao golpe de Estado, estamos reagindo à prisão política de Lula, portanto, não temos medo de enfrentar governo algum, ações truculentas só nos levam para frente e para cima e não para trás.
 
Uma grande questão que temos que enfrentar está relacionada à autonomia universitária, fundamental na essência da instituição pública de ensino superior, para garantir a sua liberdade de gestão, formação, reflexão, criação e crítica. Trata-se da capacidade de se autogerir e isso não se limita ao orçamento, ainda que essa seja a sua base e meio pelo qual ela é fortemente atacada. Várias são as formas de intervenção que ferem a autonomia universitária, como o corte dos salários e imposições outras de restrições orçamentárias.
 
Decorrente daí, o sucateamento da universidade com a fragilização da democracia interna, confundindo a qualidade acadêmica como produtivismo que nos adoece e nos mata, chegando até à criminalização da comunidade universitária. Nesse sentido, vale a ressalva de que devemos ter o cuidado para não reproduzimos a criminalização entre nós. A existência do sindicato se justifica na defesa dos seus associados e não no seu julgamento e na sua execração. 
A coordenação da ADUNEB que se inicia tem quatro grandes desafios: 
 
1 - mobilizar e acolher as docentes e os docentes para, juntas e juntos, usarmos a criatividade para pensar novas formas de ação, o que requer o enriquecimento de nossos mecanismos de luta, acompanhando as transformações em curso; 
 
2 - abrir canais de diálogo com as diversas instâncias que, de alguma forma, estejam envolvidas com as questões que são de nossos interesses, quer seja no âmbito do governo estadual, quer seja na gestão central da universidade ou nas direções dos departamentos. A política é a contraposição da barbárie e significa exatamente o dissenso e a disputa no campo simbólico e no campo concreto, onde são expressos distintos interesses nos processos de tomada de decisão. Portanto, direitos são conquistas de luta, o que prevê o diálogo e a negociação como instrumentos políticos dos movimentos sociais, pois o contrário da política é a guerra; 
 
3 – articular o Movimento Docente da UNEB com as demais universidades baianas no Fórum das ADs, com as lutas dos demais servidores públicos e trabalhadores de outros setores;
 
4 - considerando que é uma diretoria formada por mulheres, um desafio não menor refere-se às questões de gênero. A história recente do Brasil mostrou o quanto é difícil a credibilidade em uma gestão que tem a marca feminina e, pior, o quanto é perversa a oposição que, de modo geral, não se limita às ideias, tem várias nuances. 
 
O que nos move é a defesa da democracia e da universidade pública nesse contexto e, em especial, a UNEB, cujo grande potencial para o desenvolvimento sustentável, para a inclusão social e produtiva ainda é subaproveitado. Propomo-nos a sermos combativas, responsáveis, abertas ao diálogo na defesa dos salários, do plano de carreira, das condições de trabalho e seus desdobramentos e outras demandas docentes, para interiorização de um ensino superior de qualidade. E tudo isso, se fortalecermos conjuntamente o Movimento Docente, a universidade pública, a UNEB.
 
Agradecemos aos colegas que dirigiram a ADUNEB até aqui. Temos mais convergências do que divergências e, sobretudo, somamos na defesa do Estado democrático de direito, da liberdade e do direito de candidatura do ex-presidente Lula, da universidade, da UNEB e dos nossos direitos.
 
Por fim, quero agradecer a todas e todos que nos ajudaram nessa jornada, em especial aos colegas que nos apoiaram com entusiasmo. Somos todas e todos ADUNEB. A luta até aqui não terá valido à pena se não dermos um salto qualitativo em defesa da UNEB pública, gratuita e de qualidade, o que requer a defesa e a garantia dos nossos direitos de docentes. Viva a luta da classe trabalhadora. Nenhum direito a menos!