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Mesa redonda debateu cortes no fomento à pesquisa e a necessidade de reação da comunidade científica



 Preocupada com as políticas dos governos federal e estadual, de desmonte dos programas de pesquisas e pós-graduações das universidades públicas, a Comissão de Mobilização da ADUNEB promoveu, na quinta-feira (09), a mesa redonda “Cortes no fomento à pesquisa”. Os debatedores foram a professora Raquel Dias (ANDES-SN), os docentes Fernando Carvalho (PPG Uneb / Agência Inovação) e Silvio Cunha (PGQUÍMICA-Ufba). A mediação foi da professora Marluce da Guarda (DCET-I Uneb). A atividade foi transmitida pela página do Facebook da ADUNEB e pode ser assistida na integra ao clicar aqui.

A mesa redonda foi mais uma das atividades da agenda de mobilização do Movimento Docente da Uneb, que paralisou as atividades acadêmicas dos campi da universidade, por toda a semana passada (leia mais).

Para a diretora do ANDES-SN, Raquel Dias, os cortes orçamentários às universidades públicas e a tentativa de desmonte dos programas de pesquisa e pós-graduação, feitos atualmente pelo governo Temer, não são ações isoladas. Pertencem a uma política de Estado, que fica evidente quando nota-se que tais cortes já ocorrem há anos. Segundo Raquel, desde 2012, somente no Ministério da Educação foram arrancados R$ 23,34 bilhões, o que comprova a política de desmonte, independente do governo em questão.

A professora Raquel comentou sobre a possibilidade de corte de todas as bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Na quinta-feira (02), o conselho superior da Capes fez um alerta sobre a possibilidade de que quase 200 mil bolsistas, financiados pela entidade, poderão ficar sem bolsa a partir de agosto de 2019. Segundo Raquel, se confirmado, “O corte levará as universidades ao colapso”. A docente informou que o ANDES entrou em contato com várias entidades científicas e acadêmicas. A intenção é organizar uma reunião com o maior número possível de entidades para pensarem juntas em uma ação unificada para barrar a ameaça de cortes do próximo ano.
 
Segundo debatedor a falar, o professor Silvio Cunha (Ufba) iniciou afirmando que, a partir de um levantamento de cortes de recursos federais à educação pública, nos últimos cinco anos, é possível afirmar que “Paira sobre a pesquisa brasileira uma ameaça de destruição”. Assim como Raquel Dias, ele acredita que as ações devem ser tratadas com um projeto de Estado, que busca o desmonte dos programas de pesquisa do país.
 
Raquel Dias, Marluce da Guarda, Silvio Cunha e Fernando Carvalho
 
De acordo com Cunha, a valorização das pesquisas nacionais é essencial, pois muitos setores ainda oferecem mais atenção às produções internacionais. Como exemplo da alta qualidade brasileira em pesquisa, ele citou a tecnologia de ponta na fabricação de aviões; o desenvolvimento de motores de automóveis híbridos, que são referência em todo o mundo, entre outros. Para o professor, o campo científico precisa aumentar a capacidade de comunicação com a sociedade. Preocupado, o docente alerta sobre a importância da manutenção do portal da Capes, que foi o responsável pela democratização de informações sobre a produção da ciência. “É um patrimônio da comunidade científica brasileira”.
 
O professor Fernando Carvalho trouxe à mesa sua experiência como ex-pró-reitor da pós-graduação da Uneb. Para ele, todos os impactos negativos causados pelos cortes, desde 2015, já produziram prejuízos que podem começar a ser considerados irreversíveis à ciência brasileira. O docente analisa a possibilidade de cortes da Capes como o último golpe às universidades públicas e ao país. “Se não faz ciência, não evolui. Se não evolui, não inova. Se não inova, não consegue levar desenvolvimento à sociedade”, explica. 
 
Fernando comentou que a formação de programas de pesquisas e cientistas é um processo lento, que demora anos. Se o país perder a infraestrutura e a capacidade de criar, os pesquisadores irão trabalhar no exterior, o que será desastroso ao desenvolvimento da nação. Como forma de luta contra a atual conjuntura, Carvalho defende a necessidade de representações do campo da ciência ocuparem espaços nas estâncias decisórias de governo. “Enquanto isso não ocorrer, estaremos recebendo os impactos de cima para baixo, não conseguiremos mudar o cenário”, afirmou o professor.
 
Após as falas, a mediadora da mesa, Marluce da Guarda, abriu a perguntas e reflexões da plenária. Antes de encerrar o evento, a docente do Campus I fez um chamado a todas e todos à mobilização. De acordo com Marluce, o debate precisa ser ampliado, levado aos programas de pós-graduação, aos fóruns de discussão científica. Da mesma maneira é necessário cobrar do governo da Bahia o descaso com as universidades públicas, questionar a falta de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), qual o planejamento para o Fundação em 2019. “Precisamos debater e encontrarmos formas de reagir, não podemos mais ficar esperando”, finalizou.