As universidades estaduais baianas pedem socorro
*Gildeci de Oliveira Leite
Como é sabido, a docência das Universidades Estaduais Baianas (UEBAS) foi obrigada a deflagrar greve neste abril de 2019. Somos professores de quatro universidades: a UNEB (Universidade do Estado da Bahia), a UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), a UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz) e a UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia). Há cerca de quatro anos, o governo do estado tem negado nos atender, somente agora quebrando o jejum. Até aqui não nos parece, que o atual governo compreende o verdadeiro papel das UEBAS ou das universidades públicas brasileiras como um todo.
Será que todos nós sabemos os papéis desempenhados pelas universidades públicas? Entre os discursos desfavoráveis às reivindicações de movimentos em defesa das universidades, há um, aparentemente plausível, aparentemente verdadeiro. Zelosos com a educação, governantes dizem se preocupar apenas com a educação básica, inclusive, retirando recursos das universidades. Certamente, alguém mais atento irá perceber, que essa tentativa de colocar as docências da educação básica e da educação superior em atrito é uma infâmia, pois há recursos suficientes para todas as esferas do ensino. Portanto, nos desviemos desta armadilha, afinal todos da educação básica fizeram um curso em uma universidade.
Na verdade, toda, todo e qualquer cidadã, cidadão, que prime pelo desenvolvimento de seu estado, de seu país, deveria envidar esforços para a boa saúde acadêmica e financeira de suas instituições de ensino superior. A explicação é simples, mas bem escondida da maioria da população brasileira: sem desenvolvimento crítico, científico e tecnológico, não há real desenvolvimento nos estados, no país. Portanto, de nada adiantarão apenas estradas, praças e até hospitais se associada a essas conquistas não tivermos a possibilidade da autonomia do pensamento, das descobertas científicas e tecnológicas para a melhoria da vida da população. Seria como inaugurarmos uma série de obras, com festas caríssimas, e continuarmos na dependência de outros estados e até de nações para formar nossa inteligência, para produzir e difundir conhecimento. Sendo assim, precisamos de estradas, praças, hospitais, mas acima de tudo precisamos compreende-los, analisa-los, criticá-los e termos a plena capacidade de geri-los. As universidades estaduais baianas formam profissionais para ocupar esses e outros espaços.
Daí a necessidade, objetiva, de entender a importância das universidades públicas brasileiras, pois nelas estão mais de 90% (noventa porcento) de toda a produção científica do país. Na Bahia, as universidades estaduais não podem ser entendidas como gastos, pois elas são responsáveis por parcela significativa da produção e difusão do conhecimento em nosso estado. Sendo assim, preocupar-se com o povo baiano é também preocupar-se com as UEBAS, que vivem desestabilizadas pelos excessivos cortes orçamentários impostos pelo governo do estado da Bahia. Afinal, educação não é gasto e sim investimento em tamanho de infinitas proporções. Também é de conhecimento geral, que as UEBAS foram as primeiras a levar para nossas cidades interioranas o ensino superior, a extensão universitária e a pesquisa científica. Provavelmente, você conhece ou já ouviu falar de alguém que graduou e/ou pós-graduou em uma das UEBAS, que possui um ou mais diplomas e/ou certificados de nossas dezenas de graduações, especializações, mestrados e doutorados gratuitos.
As universidades estaduais baianas atendem dezenas de milhares de estudantes, muitos destes em situação de vulnerabilidade financeira, recebendo assistência em residências universitárias, realizando atividades acadêmicas remuneradas, postas em risco por conta dos excessivos cortes do governo do estado da Bahia nos últimos quatro anos. A comunidade baiana, independentemente de preferências políticas, é proprietária das universidades estaduais baianas. Todas e todos devemos chamar atenção do governo do estado da Bahia para o devido zelo com este patrimônio e com as pessoas que fazem das universidades organismos vivos. Precisamos mostrar, que nos importamos com nossas universidades e que entendemos o descuido para com nossas universidades como descuido para com nosso povo.
As universidades estaduais baianas são patrimônios inalienáveis do povo baiano omitidos das grandes propagandas oficiais! Desprezar as universidades estaduais baianas é desprezar o povo da Bahia! Nossas universidades pedem socorro!
*Gildeci de Oliveira Leite
Escritor, professor da UNEB, sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia