Opiniões e Debates

Espaço para publicação de opiniões, textos, artigos sobre conjuntura local, nacional e internacional, educação e movimento sindical. Para ter seu texto publicado basta enviar um email para aduneb@aduneb.com.br. Participe!



A política e as redes sociais em tempos de pós-verdade

* Elton Moreira Quadros 

No final de 2016, a Oxford Dictionaries (Dicionário Oxford) elegeu o termo pós-verdade – que descreve esses nossos tempos em que a verdade não importa mais – como a palavra do ano. Ao lado dela, outra expressão que ganhou grande destaque nos últimos tempos foi “fake News” (ou “notícias falsas”).

Assim, com essa combinação, parece que chegamos a um tempo em que, especialmente, na política, a verdade ou, pelo menos, um mínimo de razoabilidade no trato da notícia e dos temas urgentes da sociedade já não interessam mais.  Aparentemente, muitos de nós já não nos importamos mais com qualquer rigor e apuração dos fatos.

Um caso curioso é que, já há algum tempo, existem sites especializados em notícias falsas que lucram muito através da publicidade por conta da quantidade de curtidas das (falsas) notícias. 

No entanto, o que fica evidente é que esses sites trabalham com a “lógica ideológica”, isto é, as pessoas clicam e “curtem” as notícias falsas que estejam em consonância com o seu espectro político-ideológico ou nos variados sentidos: musical, cinematográfico, sexual, futebolístico, artístico, comportamental etc., que são concordantes com o que elas já acreditam. Se uma notícia coloca em xeque a conduta de um determinado político de que alguma pessoa não gosta, não importa a veracidade (ou a falta dela) e a qualidade (ou a falta dela) dos argumentos ou fatos apresentados: sua tendência é ler, “curtir” e até mesmo compartilhar em suas redes sociais. E o contrário também se aplica: uma “boa” notícia sobre um político ou uma causa de sua preferência, geram reações semelhantes.

Outro dado curioso é que, quanto maior a polêmica e, digamos assim, quanto mais ódio uma postagem provoca, mais ela atrai pessoas engajadas e isso alimenta fortemente a quantidade de acesso e de repercussão, quer de um conteúdo falso (que é desmentido ou defendido ardorosamente), quer das possibilidades comerciais associadas a esse movimento em torno de uma publicação – já que visualizações podem se tornar muito lucrativas.

Portanto, temos cada vez mais um ambiente pessoal (redes sociais) dominado por questões políticas na lógica das afeições e dos ódios ao invés da argumentação e dos fatos (ou mesmo, se considerarmos a visão nietzschiana sobre os fatos, de razoáveis interpretações). E o “debate público” no Brasil está vivendo uma espécie de encarnação dessa mistura entre o largo uso das fake News para fins políticos em um ambiente cultural da pós-verdade.

Com isso, esse excelente espaço de possibilidade democrática que é a internet acaba por ser dominado pela lógica da polarização ao invés de ser um frutuoso espaço de discussão democrática que vise ao bem comum e não somente um espaço de “mentiras que interessam”.


*Elton Moreira Quadros é professor da Uneb, Campus VIII, Paulo Afonso - BA, prof. do PPG em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental da Uneb e do PPG em Memória: Linguagem e Sociedade da Uesb