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De passagens, de faltas e de autoritarismo na UNEB

# Prof. Paulo Fernandes 

Sexta-feira passada, pra não pagar 98 reais de buzu para Jacobina, tratei com um cara do grupo de facebook “idas e vindas Jacobina”, às 9 horas, por 50 reais. Cheguei no posto da rodoviária às 8:50, esperei, o cara não aparecia, liguei, o filho me disse que havia me esperado mas resolveu adiantar o lado. As 9:05, vi um carro com placa de Jacobina e três pessoas, interpelei, iam para a região de Jacobina, fui. Próximo a Riachão do Jacuípe o carro começou a dar pau, desci e peguei um buzu que ia para Campo Formoso. Cheguei em Capim Grosso às 3h e consegui um buzu para Jacobina. Parte dos alunos, avisados em Riachão, me esperou. Quase oito horas na estrada.

Algumas pessoas acharam este relato sinistro. Há piores. Uma vez, indo para Paulo Afonso, onde fui ministrar um curso, acordei no meio da noite por tiros e com dois presuntos de assaltantes estirados no corredor do ônibus. Lembro também dos vários colegas, alguns deles senhoras quase septuagenárias e com problemas de locomoção que foram assaltados e humilhados a caminho do trabalho. Lembro também de uma ocasião em que o sanitário de um ônibus transbordou, inundando o veículo inteiro, bem como das várias vezes em que ficamos no meio da estrada, com ônibus quebrados, soltando fumaça, e ou com os pneus desfeitos em tiras. Lembro das moscas, mosquitos, baratas, sempre tão presentes, das goteiras, dos sistemas de ar condicionado quebrados todo santo sábado à tarde, e das janelas trancadas. Lembrei finalmente do abaixo-assinado que nós, os privilegiados, encabeçamos, o qual serviu de fundamento para que o Ministério Público de Jacobina obrigasse a São Luiz a substituir as latas velhas em que viajávamos.

Não gostaria de ter lembrado de tudo isso. Mas o que mais me dói é saber que muitos colegas consideram os recipientes de passagens privilegiados. Alguns até reivindicam receber a mesma quantia recebida pelos viajantes, para se equipararem em “direitos”.

Mas o pior de tudo isso é saber que há quase trezentos dias iluminados contabilistas e economistas (e isso não é uma ironia) do Tribunal de Contas do Estado recomendaram ao reitor que gestionasse, junto com a SEC, a Casa Civil e a Procuradoria Geral do Estado, a modificação do texto de um decreto que limita a concessão de passagens a distâncias de até 72 Km, para atender às especificidades da UNEB e UEFS.

Este reitor burocraticamente enviou um oficio à PGE. Constato, entretanto, que quando o salário deste reitor foi cortado devido à paralisação que reivindicava, entre outras coisas, a resolução do problema de locomoção docente, o mesmo se mobilizou instantaneamente. ”Negociou” e resolveu tudo em menos de dois dias. Parece-nos que a reitoria não está verdadeiramente interessada em resolver o problema da manutenção da multicampia. Parece que o que ela quer
é que alguém corte as passagens por ela.

Senhor reitor, o senhor foi eleito para defender uma instituição que se orgulha de ser a maior universidade multicampi do nordeste, ou do Brasil, não sei. Por que o senhor não usa desta prerrogativa para obter uma audiência com o chefe da Casa Civil, ou com a Procuradoria Geral do Estado para resolver isso?

Mais, senhor reitor, uma das suas pró-reitoras,a de gestão (!) de pessoas, hoje enviou aos colegiados uma “ordem” aos coordenadores de colegiados, exigindo que os professores definissem os horários de reposição de aulas perdidas por força da paralisação. A pró-reitora pignora que os alunos não aceitarão assistir aulas aos sábados à tarde, em nenhum campus?

Ou aos domingos? O seu pró-reitor sabe que ao fazerem vestibular, os alunos optam por cursos matutinos, vespertinos ou noturnos em função de suas necessidades de trabalho e locomoção, e que não vai ser possível obrigar os mesmos a virem em outro turno?

O seu pró-reitor nunca ouviu falar em discussão de calendário? Ou vai EMITIR ESTA ORDEM, e quem não cumprir vai ser descontado? Mais uma ameaça, esta, agora, finalmente, explicitamente, vinda DE DENTRO da universidade? Devemos voltar a viver sob o jugo do medo, da intimidação? É pra isso que o senhor foi eleito reitor? É ESTA A UNIVERSIDADE SOCIALMENTE REFERENCIADA QUE APARECE NOS DOCUMENTOS OFICIAIS?

# Professor Paulo Fernandes
Campus IV - Jacobina