Opiniões e Debates

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ADUNEB, a trajetória de uma entidade nascida para lutar

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olhos meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Carlos Drummond de Andrade

Em dezembro de 2003, 20 anos depois da criação da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), os docentes da instituição encontravam-se em greve. Era a terceira paralisação em quatro anos que se enfrentava com o todo poderoso governo carlista de Paulo Souto. Talvez justamente em função do embate que travavam contra o arrocho salarial, o desrespeito e o descaso com a educação praticados pelo governante de plantão, que a passagem dos 20 anos do surgimento da própria Associação dos Docentes da Universidade do Estado da Bahia (ADUNEB), que nasceu no mesmo ano que a própria UNEB, tenha passado em branco. Cinco
anos passados daquela data, é hora de corrigir a nossa falta de memória, porque ficamos devendo aos nossos sindicalizados uma nota de lembrança da fundação da gloriosa ADUNEB.

Não obstante, como estávamos cumprindo o objetivo precípuo para o qual surgiu a própria entidade, qual seja de lutar contra as mazelas que nos afligiam (e continuam afligindo), a nossa falta não deve ser super-dimensionada já que a ADUNEB nasceu para lutar. Em todo caso os docentes da UNEB já se tinham acostumando com a sua entidade sindical que se vinha construindo na luta, pois a greve de 2003 refazia um caminho que já vinha sendo trilhado desde 2000. A situação se repetiria ainda em 2005, novamente contra o governo de Paulo Souto, e em 2007, desta feita contra o governo do petista Jaques Wagner.
Surgida numa assembléia que reuniu 22 professores de Salvador, Alagoinhas e
Jacobina, no dia 17 de dezembro de 1981, a ADOS, Associação dos Docentes da
Superintendência de Ensino Superior da Bahia (SESEB), foi o embrião da futura entidade que congregaria os docentes da UNEB e que nasceria da criação do Sistema Estadual de Ensino Superior em 1983. A UNEB, por sua vez, foi criada em primeiro de junho de 1983, na gestão do então governador João Durval Carneiro, como primeira universidade multicampi da Bahia, destinada a interiorizar o Ensino Superior nas várias regiões do Estado e suprir as lacunas e deficiências de um sistema federal que impunha perversamente à Bahia existência de uma
única universidade federal. A UNEB, em pouco tempo, espalhou-se por todas as regiões do Estado e junto com ela foi também a nova organização dos docentes que sucedeu a ADOS.

Com efeito, com o surgimento da UNEB, surgiu também uma nova entidade, a ADUNEB. Contudo os ventos da democracia ainda pareciam distantes, pois enquanto João Durval governava a Bahia depois de ter sido indicado como candidato à sucessão em substituição a Cleriston Andrade pela legenda do partido da ditadura militar, o PDS, comandado por ACM na Bahia, o Brasil vivia ainda sob a sombra dos militares, pois o presidente da República era o general João Batista Figueiredo. Nessas circunstâncias, o exercício do mandato sindical era uma atividade de alto risco, já que os órgãos de segurança e repressão do Estado, ainda sob a égide da Doutrina de Segurança Nacional, não via com bons olhos a organização dos trabalhadores. Ainda assim, a primeira diretoria da ADOS, que contava em seus quadros com Joaquim Mendes, Zalvira Conceição, Lycia Guedes, Edmundo dos Santos, José Laranjeira e Dan Santana, cumpriu seu objetivo de impulsionar as primeiras ações associativas da entidade, consolidar a representação docente e preparar o caminho para o surgimento da ADUNEB. Esta, por sua vez, elegeu sua primeira direção em 1984, com a seguinte composição: Ney Castro (presidente); Dan Oliveira (vice-presidente); Antônio Carlos Iço (primeiro secretário); Noemia Cortes (segundo secretário); Maria de Fátima Noleto (primeiro tesoureiro); Iraci Rocha (segundo tesoureiro).

Muito embora não tenhamos conseguido acessar os registros da atuação da entidade nesses primeiros anos de sua existência, considerando a grande agitação política vivida no país em função do movimento pelas “Diretas Já”, pode-se afirmar, com pouca margem de dúvidas, que os dirigentes da ADUNEB participaram ativamente da luta pelo restabelecimento da democracia no Brasil. Frustrada a emenda Dante de Oliveira que estabelecia eleições diretas para presidente do Brasil em 1984, em 1985 uma ampla coalizão de forças denominada Frente Liberal que reunia dissidentes do regime militar e opositores do MDB foi eleita indiretamente para dirigir o país. Tancredo Neves, que então encabeçava a tal
Frente, nem chegou a tomar posse, já que faleceu poucos dias antes da posse. Em seu lugar assumiu o vice-presidente José Sarney, um antigo aliado dos militares que inclusive tinha sido líder do governo dos generais no Congresso Nacional. No ano seguinte, a Bahia assistiria ao massacre eleitoral de Waldir Pires, candidato do PMDB ligado à oposição democrática que veio a derrotar o Josaphat Marinho, cuja candidatura tinha sido impulsionada pelas forças vinculadas ao antigo regime e apoiada por Antonio Carlos Magalhães. Viviam-se tempos de esperança no país, malgrado as desconfianças frente ao novo presidente e a conjuntura de crise provocada pela explosão da dívida ocorrida no início dos anos 80. Nas circunstâncias em que uma inflação galopante corroia os salários dos trabalhadores, os servidores públicos do Estado da Bahia saíram às ruas para reivindicar os direitos que lhes haviam sido negados durante os longos anos de obscurantismo, repressão e arrocho salarial.

Enquanto isso, ainda em 1986, a ADUNEB elegia sua segunda diretoria (terceira se
considerarmos a diretoria da ADOS) encarregada de travar as lutas no biênio 1987-1989.
Encabeçando a entidade o já experimentado dirigente Dan Oliveira, que havia participado das duas direções anteriores e que tinha como companheiros Maria Noêmia Cortes, como vice presidente, Maria Tereza Coutinho, como primeira secretária, Paulo Machado, como segundo secretário, Zalmar Vianna, como primeira tesoureira, Jerônimo Jorge C. Silva, como segundo tesoureiro e mais Jackson Azevedo (diretor de assistência), Ivone Maria França (diretora de divulgação) e Ana Beatriz Simon (diretora de promoção). Foi justamente esta diretoria da ADUNEB que teve a responsabilidade de dirigir a primeira grande greve da categoria que
unificou com as outras quatro universidades estaduais para enfrentar a manutenção das políticas de arrocho salarial então praticadas pelo chamado “governo democrático” de Waldir Pires. A greve das Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES), ocorrida em 1987 numa conjuntura em que os trabalhadores de todo o país vieram cobrar a conta dos patrões e dos governos que insistiam e lhes impor o ônus da crise econômica, esteve visceralmente ligada ao período de grande agitação política que chegou a produzir centenas de greves de diversas categorias. Não obstante, o movimento que havia surgido nas IEES com muito vigor e que
culminou com um acampamento de vários meses na frente da Governadoria, ao que parece, não logrou os êxitos esperados, já que o governo de Waldir Pires ainda gozava de grande popularidade, inclusive entre boa parte dos sindicalistas que alimentavam esperanças em mudanças nas relações entre governo e trabalhadores com e eleição da oposição.