Pinheirinho: o dia que a terra parou na Comuna moderna
*Milton Pinheiro
Ontem (dia 22.01) ao final da manhã, assim que fiquei sabendo da invasão da polícia tucana, viemos para São José dos Campos. Tomamos o rumo da comunidade do Pinheirinho (juntamente com a camarada Sofia Manzano), mas, logo pelo caminho, ainda longe do local, fomos impedidos de continuar de carro, pois as ruas e avenidas estavam interditadas pela PM, companhia de trânsito e a guarda municipal. Abandonamos o carro e andamos para as redondezas da comuna sitiada. A região estava cercada, a PM e a guarda municipal fortemente armadas e aparelhadas, colocaram barreiras com carros, cordas e equipamentos. Milhares de pessoas pelas ruas do bairro, ao lado da Comuna sitiada, conversavam em grandes e pequenos grupos, em dezenas de ruas. Era uma situação de grande expectativa.
Entramos por vias não convencionais no interior da comunidade, era um estado de guerra: carros de combate, dezenas de viaturas, helicópteros (04), homens das forças da repressão em uniformes de combate, cães da polícia, um aparato nunca visto antes em ações de repressão pelo Brasil a fora. Visualizei nessas ações a prática do fascismo sionista de Israel, quando invade os territórios palestinos para expulsar os seus moradores.
Conseguimos nos manter no local. Lá estavam lideranças importantes do movimento sindical e dirigentes de organizações revolucionárias. Alguns protegidos em diversas casas pelos moradores, em virtude da caça do serviço reservado da repressão. O ambiente era de tragédia e resistência. A invasão da PM gerou confrontos que terminou por destruir a escola, o posto médico, as cercas de um grande parque público, uma padaria, e a destruição de vários carros. O confronto continuava: a PM espancava as pessoas pelas ruas da comuna, jogavam bombas e atiravam (balas de borracha?) nos moradores. Os helicópteros davam vôos rasantes sobre as casas e paravam sobre nossas cabeças. As ambulâncias entravam e saiam sem parar e os tratores avançavam sobre as moradias.
Desciam dos helicópteros personagens de paletó e gravata, com equipes de filmagem para distorcer os acontecimentos, assim como altos oficiais da PM e, provavelmente, assessores do governo fascista do PSDB.
Dos nossos celulares passávamos informações para vários camaradas e entidades. Todavia, não conseguíamos falar porque os helicópteros estacionavam sobre nós, mais também em virtude do sinal ter sido retirado em algumas áreas. Conseguimos fazer um longo percurso e sair da comuna. Mas antes tivemos a satisfação de ver o episódio do carro da rede Globo que foi queimado.
Fomos para a sede do comando de solidariedade ao movimento, o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos. Lá encontramos, nas diversas reuniões, camaradas de várias entidades dos trabalhadores, da juventude universitária e de diversos movimentos sociais.
Tivemos várias plenárias e fomos para uma manifestação na frente da casa do prefeito. Todavia, todos estavam tensos pelo que podia ocorrer quando a noite chegasse.
A preocupação se mostrou efetiva. À noite, a PM e os agentes do serviço reservado (P2) partiram para cima da resistência. Tiros, mais de 20 prisões, agressão ao representante do governo federal que estava escoltado por agentes da polícia federal (que negociava a saída de lideranças), invasão da igreja e, um triste acontecimento, uma criança havia sido assassinada.
Ficamos de vigília por toda a noite. Os atos da repressão continuavam e a resistência não esmorecia. Pela manhã se via os escombros causados pelo vandalismo da repressão. Logo fizemos uma plenária. Depois fizemos uma passeata e um ato público no centro da cidade.
Agora o processo de negociação avança. Não sabemos qual vai ser o desfecho. Todavia, uma questão é importante registrar: os moradores e trabalhadores da comuna do Pinheirinho resistiram bravamente, as brigadas de apoio, de todo tipo de movimento e organizações, para aqui se dirigiram. Isso comprova que somos capazes de realizar uma ação classista, organizada e politicamente unitária, criando um processo de aprendizagem para o conjunto da vanguarda.
Estamos começando um processo de organização que, após esse importante ensaio da comuna moderna, que é o Pinheirinho, nos permite tirar ensinamentos, e colocar novas tarefas e bandeiras para aqueles que lutam com a classe, no sentido de movimentar os trabalhadores para realizar o seu papel histórico. Afinal, como nos afirma Lênin, “o proletariado tem como única arma, na sua luta pelo poder, a organização”.
Vamos em frente, o futuro nos pertence!
*Milton Pinheiro é professor de ciência política da UNEB (mtpinh@uol.com.br)