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Jornada de Formação Política da ADUNEB debate o perfil da nova direita no país



 No atual período de intenso enfrentamento às forças políticas de direita no Brasil, que praticam as retiradas de direitos trabalhistas, humanos e sociais, é tarefa das organizações de trabalhadores conhecer profundamente o oponente. E justamente para discutir sobre qual o perfil da atual direita, principais grupos, estrutura, como atuam e formas de financiamento, que a ADUNEB promoveu o debate “A direita em ação no Brasil atual”. A atividade aconteceu na quarta-feira (05), no auditório do sindicato e contou com os convidados Prof. Dr. Jefferson Barbosa (Unesp) e a Profa. Dra. Sandra Siqueira (UFBA). A coordenação foi do diretor da ADUNEB, Prof. Dr. Milton Pinheiro. Essa foi a etapa inicial da I Jornada de Formação Política, que acontecerá durante todo o primeiro semestre. A próxima será sobre os cem anos da Revolução Russa, que ocorrerá no dia 3 de maio, no auditório do sindicato. 

Pesquisador sobre o tema há mais de dez anos, o professor Jefferson Barbosa, da Unesp, defendeu a tese de que atualmente ocorre no país o que chamou de “pedagogia regressiva da ordem”. Barbosa explicou que nesse cenário, os grupos corporativos empresariais se instalam no interior dos vários setores das administrações estatais, com o objetivo de extrair proveitos políticos e econômicos. Ainda de acordo com o professor da Unesp, o que ocorre no país não pode ser visto como onda conservadora, mas sim uma nova fase de ofensiva da direita, que já acontece há mais de 80 anos. Como exemplo histórico, entre outros, o docente citou a Ação Integralista Brasileira, na década de 30 do século passado, que chegou a ter alguma repercussão política. 
 
Desafio
 
Para Jefferson Barbosa, a nova direita que se manifesta no país representa um desafio à esquerda e aos trabalhadores. As atuais organizações continuam a atuar no campo do liberalismo, do Estado mínimo e da exploração da classe trabalhadora, porém, diferente de tempos passados, são bem fundamentados em bases teóricas, pesquisadores sobre história e economia, mas dentro de uma perspectiva revisionista. Respaldados pelo dinheiro de corporações empresariais privadas, nacionais e internacionais, possuem um ativismo político padronizado e extremamente organizado, que se espalha por todo o território nacional para destruir os interesses da classe trabalhadora. 
 
Embora sejam várias, três organizações foram citadas pelo professor Jefferson, Instituto Millenium e os movimentos Escola sem Partido e Brasil Livre (MBL). O Millenium, por exemplo, é uma coalizão de organizações de comunicação, um consórcio estabelecido com empresas privadas, responsáveis pela distribuição de pautas organizadas, que manipulam e norteiam à sociedade de acordo com os interesses liberais do Instituto. Nesta organização encontram-se empresas como Rede Globo e Folha de S. Paulo. 
 
A nova roupagem da direita, levado à frente pelo MBL e pelos defensores da Escola sem Partido, com estrutura e forma de comunicação adequada às novas gerações, foge dos padrões tradicionais do radicalismo da direita e do comportamento fascista. Portanto, para que a esquerda seja efetiva na atual luta de classes, além de conhecer o “novo” inimigo, é fundamental encontrar outras formas de atuação no embate.
 
Na função de debatedora na atividade, a professora Sandra Siqueira, da Universidade Federal da Bahia, entre outras reflexões, trouxe a realidade da Ufba em que jovens, que se autodenominam “não alinhados” passaram a disputar o Movimento Estudantil e outros espaços políticos de discussão. Diante do novo cenário de ofensiva da direita, Sandra Siqueira defende o reposicionamento da esquerda na luta de classes. É necessário o aprofundamento da formação política para o melhor planejamento da prática.
 
Na coordenação do debate, o diretor da ADUNEB, Milton Pinheiro, analisou como positiva a atividade, visto que pouco se discute sobre a direita no país. Segundo Pinheiro, para além das direções melhor formadas das jovens organizações de direita, as mesmas ainda possuem uma base caracterizada por grande ignorância e que são pautadas pela manipulação da mídia reacionária. O professor finalizou destacando que, no contexto no cenário político, a esquerda brasileira não pode ser compreendida como sendo apenas o Partido dos Trabalhadores. A visão generalizadora que confunde a esquerda com o PT é também fruto da má formação política, algo também a se combater.