Notícias

ADUNEB recebe debate sobre a violência contra a mulher

 Pesquisadoras e militantes do movimento feminista da Bahia, na última quinta-feira (26), participaram de uma mesa redonda sobre a violência contra a mulher, os tipos e alcance das agressões. A atividade aconteceu no auditório da ADUNEB, em Salvador, e contou com a participação das expositoras Ediane Lopes, Monique Carneiro e Zilmar Alverita. A mediação foi do professor e representante da CSP-Conlutas, Gean Santana. A discussão foi disponibilizada por videoconferência a todos os departamentos da Uneb. A organização foi da ADUNEB, Movimento Mulheres em Luta (MML) e CSP-Conlutas – Bahia.

Números e diferentes formas de violência

A militante do MML e mestra em Saúde Coletiva, Monique Carneiro, iniciou demonstrando que a violência contra a mulher acontece de inúmeras maneiras. Atos cometidos pelos companheiros como não permitir que a mulher trabalhe fora de casa, se recusar a utilizar preservativo e o assédio moral, são formas de violência que precisam ser tão combatidas quanto à agressão física. Dados disponibilizados pela integrante do MML mostram que, de 2002 a 2012, a violência contra a mulher, na Bahia, saltou 174%. No mesmo período, o aumento de estupros foi de 127%. Dessa violência, 53% ocorreram na Região Metropolitana de Salvador; e dessas, cerca de 80% aconteceram em negras e pobres, que receberam o maior impacto da opressão machista devido ao alto grau de vulnerabilidade social.

Monique Carneiro falou ainda sobre os obstáculos para que a Lei Maria da Penha seja colocada em prática, devido ao baixo orçamento destinado pelo governo federal. Encerrou sua participação refletindo sobre a violência obstétrica, um problema grave, que só agora começa a ganhar visibilidade. Segundo Monique, uma em cada quatro mulheres afirmam ter sofrido essa espécie de violência durante o processo de gravidez.

Desvalorização profissional

Pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim / Ufba), Zilmar Alverita afirmou que outro problema enfrentado pelo sexo feminino é o fato de vivermos em uma sociedade patriarcal, que desvaloriza as ações e o trabalho das mulheres. Para Zilmar, a mãe de todas as outras violências é a imposição do trabalho doméstico às mulheres e sua desvalorização. “Para a mulher ocupar espaço no mercado de trabalho, antes, tem que resolver os problemas domésticos. Essa situação já as coloca em desvantagem em relação aos homens no mundo do trabalho”, explica Alverita.

Segunda a pesquisadora da Ufba, apesar das dificuldades na luta contra o machismo, também existem vitórias. Zilmar analisa como uma conquista importante a Lei do Feminicídio, aprovada pelo governo federal em 9 de março deste ano. Com a nova lei, fruto da luta feminista de anos, o assassinato de mulheres, vítimas de violência doméstica ou discriminação de gênero passa a ser crime hediondo, previsto no Código Penal como homicídio qualificado.

Gordofobia e padrões de beleza

Diretora da ADUNEB e pesquisadora das áreas História das Mulheres, Feminismo e Relações de Gênero, Ediane Lopes, trouxe para o debate reflexões sobre a gordofobia e a ruptura com os padrões físicos de beleza. Segundo a pesquisadora, o sistema capitalista cultua padrões de beleza, os transforma em mercadoria, depois os vende para gerar lucro. Para quem estiver fora dos padrões, o que sobra é a opressão, a exclusão. “Mulheres fora do padrão de beleza vão para a periferia das atenções, inclusive, nas relações comerciais. Hoje, ser gordo é sinônimo de preguiça e indisciplina. Assim, muitos obesos não são aceitos no mercado de trabalho pelo simples fato de serem gordos”, afirma a professora. Ediane ainda esclarece: “Essa discussão serve para os corpos de pessoas. Mas, dentro desse universo, atinge as mulheres com mais intensidade, pois estão expostas ao machismo e a ditadura da beleza”. Para a pesquisadora, é preciso desconstruir o padrão. Tirar o gordo da imagem de mazela e levá-lo a valorização de sua identidade.

1% do PIB

Segundo o MML, para combater a violência contra a mulher é preciso de investimento público. Na Bahia, por exemplo, existe apenas uma Casa Abrigo e 19 delegacias da mulher. O PIB brasileiro, no ano de 2013, alcançou R$ 4,84 trilhões. Porém, apenas R$ 188.841.517,00 foram destinados à Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), órgão responsável pelo enfrentamento à violência contra as mulheres. Deste valor, apenas R$ 151.100.000,00 foi efetivado, representando cerca de 0,003% do PIB. A luta do MML é a aplicação de 1% do PIB para políticas de enfrentamento à violência contra a mulher.

Documentário

Entre os presentes no auditório da ADUNEB, Rafaela Landim e Alice Santiago, chamaram a atenção pelo interesse demonstrado às discussões. Estudantes de jornalismo da Unijorge, elas desenvolvem um documentário sobre o feminismo. “Ouvindo as falas notei que já sofri muitas das violências citadas aqui. É importante conhecer para lutar contra”, comentou Rafaela. “Os dados que as palestrantes trouxeram sobre o machismo serão fundamentais em nosso trabalho”, completou Alice. Satisfeitas com o debate, elas saíram com novos conhecimentos e a vontade de que o documentário seja mais uma arma na luta em defesa das mulheres.


Debate alertou para as várias formas de violência contra a mulher