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ADUNEB se posiciona contra a violência à mulher e o conservadorismo na Bahia



 Dois fatos violentos, ocorridos recentemente no estado da Bahia, chamaram a atenção da coordenação da ADUNEB: a denúncia de estupro ocorrida na cidade de Jacobina, na passagem do ano; e o ataque ao bar voltado ao público LGBT, em Salvador, na sexta-feira (05). Dois episódios que, além de evidenciarem a atual face violenta de setores reacionários da sociedade, reforçam a necessidade da maior união das organizações de esquerda em defesa dos segmentos sociais mais oprimidos.

Denúncia de estupro
 
Na madrugada do último dia do ano, segundo denúncia, um homem de 34 anos teria estuprado uma jovem de 18 anos, em uma boate, no município de Jacobina. Embora o acusado negue o crime e defenda que foi uma relação sexual consensual, o Ministério Público da Bahia informou que os indícios e provas evidenciados indicam o acusado como o autor do crime. De acordo com o próprio MP-BA, o mesmo suspeito já responde a outro processo de estupro, na época cometido a uma menina de 14 anos. A ação é de 2014 e corre em segredo de justiça, na cidade de Capim Grosso.
 
Dados estimados do Ipea, do setor de Estudos e Políticas do Estado das Instituições e da Democracia, mostram que aproximadamente 500 mil mulheres são estupradas por ano no Brasil. Porém, mesmo diante do alarmante número, no governo Temer as políticas públicas voltadas à proteção das mulheres sofreram grande retrocesso. Informações do portal do orçamento do Senado Federal, em um comparativo entre 2016 e 2017, evidenciam que no ano passado as verbas para atendimento às mulheres em situação de risco caíram 61%, despencando de R$ 42,9 milhões para R$ 16,7 milhões. Outro corte brusco ocorreu nas políticas voltadas à autonomia das mulheres, com um decréscimo de 54%, saindo de R$ 11,5 milhões para apenas 5,3 milhões em 2017.

Já no estado da Bahia o problema do machismo institucional é observado, por exemplo, no baixo número de Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). Dos 417 municípios baianos, apenas 36 possuem delegacias voltadas ao atendimento especial ao público feminino. Somente em Simões Filho existia Casa Abrigo às mulheres vitimadas.

Para uma das coordenadoras da ADUNEB e diretora do ANDES-SN, Caroline Lima, a denúncia de estupro em Jacobina teve repercussão na sociedade devido às ações de mulheres organizadas do município. “É importante registrar que a organização do Movimento Feminista faz com que esses casos não fiquem impunes, que os agressores sejam identificados e punidos. Além disso, contribui ainda para que as mulheres se sintam encorajadas para fazer a denúncia e reagirem a esse tipo de violência”, afirmou a professora. Caroline ainda ressaltou a importância de se discutir gênero nas escolas e em outros espaços de formação. O objetivo é contrapor as inúmeras formas de opressão, a exemplo do machismo e da LGBTfobia. 

Ataque ao bar 
                                                                                                                                                                                     Foto: Revista Fórum
 
Na última sexta-feira (05), a violência contra a comunidade LGTB atingiu a reinauguração do bar Caras & Bocas, no Centro de Salvador. O local tem como proprietárias um casal de lésbicas. O estabelecimento teve as postas abertas há mais de dez anos, em Periperi. Durante a noite de reabertura do bar, agora no centro da cidade, o estabelecimento foi atacado quatro vezes com pedras e sacos com blocos de gelo. Os atos aconteceram enquanto artistas trans e travestis realizavam shows. Embora ninguém tenha ficado gravemente ferido, a violência causou prejuízo e muito pânico às donas e aos frequentadores do Caras & Bocas. 
 
Matéria publicada pela ADUNEB no ano passado (leia aqui), sobre a luta de trans e travestis pelo mercado de trabalho, divulgou dados da Rede Trans Brasil em que ficou evidente que o preconceito e a transfobia são causadores de muitas mortes de transexuais e travestis no país. Apenas em 2016, foram 142 assassinatos e 47 tentativas de homicídios. Segundo a ONG internacional Transgender Europe, no período de 2008 e 2014 foram 691 mortes, o que faz do Brasil o campeão em assassinatos no mundo desse segmento populacional. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, a média de vida de uma pessoa trans no país é de apenas 35 anos.
 
Segundo a coordenadora da ADUNEB, da pasta de Gênero, Etnia e Diversidade, Ediane Lopes, episódios violentos como o ocorrido no bar Caras & Bocas mostram que a ofensiva conservadora, iniciada a partir de 2014, também tem consequências em Salvador. “Quando essas questões vêm à tona, percebemos os limites do capitalismo. As pessoas são impedidas até mesmo de abrir um comércio por conta de suas orientações sexuais. Isso só reforça a percepção interseccional, defendida pela ADUNEB, de que as questões de gênero, classe e raça caminham juntas. O sindicato repudia veementemente a violência contra o casal dono do bar. Lutamos para que isso não mais ocorra. Acreditamos na emancipação humana e isso tem q passar necessariamente pelas questões de gênero, classe e raça”, finalizou a docente.