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Professor da Unicamp aborda a crise do capital, os reflexos na universidade e formas de resistência



 O período Temer representa a destruição da democracia conquistada na Nova República e a entrada em um período de regressão neocolonial. O fato impacta profundamente as universidades públicas, locais em que além da forte resistência, é necessária a atuação na transformação radical na estrutura da sociedade. Essas foram algumas das reflexões do professor da Unicamp, da área de economia, Plínio de Arruda Sampaio Jr., na conferência “Universidade pública e a crise brasileira”, que aconteceu nesta sexta-feira (21), no Campus I na Uneb. A atividade fez parte do primeiro dia do IV Congresso da ADUNEB, que ocorre até amanhã, domingo (23), no Campus I da universidade, em Salvador.

De acordo com Plínio Sampaio Jr., para entender a crise nas universidades públicas é preciso compreender que o problema vem atrelado à atual crise do capitalismo. Assim como em outras partes do mundo, a solução que o governo neoliberal de Temer tem oferecido à crise é justamente a intensificação do neoliberalismo. 
 
No Brasil a saída proposta é o ajuste fiscal, que para recompor a rentabilidade do capital ataca de maneira incisiva os direitos trabalhistas e sociais dos trabalhadores. Dois exemplos são o desmonte à Previdência Social e o sucateamento da educação pública, que tem como objetivo propor as suas substituições por serviços privados, afim de proporcionar lucro ao setor empresarial. 
 
Segundo o conferencista Sampaio Jr., o projeto neoliberal proposto ao país tem como consequência três pontos básicos: 1) o rebaixamento de nível de vida tradicional dos trabalhadores; 2) a redução da soberania nacional, com a diminuição da capacidade de investimento do Estado, assim se tornando frágil em relação ao capital internacional; 3) o fortalecimento da era de negócios e da burguesia rentista, a exemplo do atual modelo da empresa de setor frigorífico JBS. Para o economista da Unicamp, no campo político, tais fatores significam a morte da Nova República. “Está morrendo o fiapo de democracia que existia no país, conquistada e arrancada pela luta da classe trabalhadora, do período de ditadura militar”, afirma Plínio Sampaio Jr.
 
Professores de vários campi da Uneb na conferência do IV Congresso da ADUNEB
 
Reflexo na universidade
 
Os reflexos do atual processo de regressão impactam profundamente a universidade pública. Como a intenção é censurar o pensamento crítico e o trabalho de resistência do professor à mercantilização da educação, são realizados os cortes orçamentários e o sucateamento das instituições de ensino. De maneira geral, o que passou a interessar ao capital é a formação de mão de obra especializada à produção, preferencialmente, feita a partir das empresas privadas de educação para gerar lucro ao setor. “Na universidade vale tudo, menos a formação crítica, não se pode tocar em feridas, refletir sobre a luta de classes, pensar nas transformações estruturais da sociedade”, comenta o professor Plínio Jr.
 
Resistência
 
O conferencista afirma que a resistência na universidade deverá vir por meio do que ele nomeia de “guerrilha acadêmica”. “Não vamos ceder em nada. Temos que defender as instituições de ensino de maneira heroica. Mais do que nunca, precisamos fazer a crítica, a formação dos alunos, orientar o maior número de estudantes, fazer discussões em sala de aula, incentivar a construção de coletivos”, explica Plínio Sampaio Jr.
 
Porém, antes de encerrar, o economista alerta que apenas a luta dentro dos muros das universidades não basta. É preciso ampliar a resistência para outras trincheiras, vincular essas lutas dos docentes aos enfrentamentos realizados nacionalmente pelos demais segmentos da classe trabalhadora. Plínio finaliza fazendo um chamamento à luta revolucionária. “Temos que enfrentar a barbárie. Precisamos combater as causas do problema, o Capitalismo. São 500 anos de história mal resolvidos. Para as mudanças estruturais profundas, temos que pensar em programas pautados na construção da revolução brasileira”, finaliza o docente da Unicamp.