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Mães de Maio visitam Salvador e trazem o legado da luta

 Com o auditório lotado de ativistas, estudantes e professores, a Uneb de Salvador recebeu, em 13.07, a mulher que desafiou militares argentinos no ano de 1977: Nora Cortiñas. Aos 86 anos ela é uma referência para os movimentos sociais latino-americanos. Sua história de luta em busca do filho desaparecido, durante a ditadura da Argentina, tornou-se também a história de luta de muitas outras mães. Juntas, elas, toda semana, se deslocam com seus lenços brancos até a Praça de Maio, na residência do Governo, anunciando que nunca irão desistir de procurar por seus filhos. Nasceu assim, o movimento das Mães da Praça de Maio. A atividade foi organizada conjuntamente pela ADUNEB e Pró-Reitoria de Extensão (Proex).

“Sem justiça social não há paz”, enfatizou Nora durante a palestra. A ativista recebeu diversas perguntas dos presentes e os encorajou a ter uma atuação política e crítica. Dos jovens aos mais velhos, deixou a mensagem da importância da luta social. “Eu não entendia nada de política até antes do golpe de Estado na Argentina. Mas, ao me encontrar com as outras mães, foi uma aprendizagem para eu entender melhor a política, meu filho e os jovens que querem se dedicar à política e também à militância. Os jovens militam para mudar o mundo, são militantes da vida e da justiça social”, afirmou Nora.
 
Nora Cortiñas, a lutadora argentina, uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio
 
A força das mulheres
 
A aparência da senhora pequena e de voz baixa não demonstra a força das palavras e da história pela qual passou. Entre a mesa ocorrida pela manhã e a roda de conversa com a participação de movimentos de mulheres da tarde, o debate perpassou por uma emocionante discussão sobre a ditadura argentina, política, direitos das mulheres e minorias. 
 
A dor e luta de Nora pelo desaparecimento do seu filho é também a dor de muitas mães, que no Brasil perdem seus filhos vítimas de assassinatos. Foi relembrado no espaço o caso das mães do Cabula, bairro que abriga um dos campi da Uneb, que foi palco de uma chacina de jovens negros. Nora refletiu durante o evento sobre a luta dessas mães e o levante feminista do último período no Brasil. Para ela, “É fundamental entender a importância da luta das mulheres, não somente daquelas que perderam os filhos para a violência policial, mas também as que são dia-a-dia vítimas do machismo e da violência”.
 
Público lotou o auditório
 
“A luta para o futuro começa desde já”
 
A mensagem deixada pela ativista histórica, ao fim do dia, foi de que “a luta para o futuro começa desde já”. Para a diretoria da ADUNEB, o espaço foi fundamental, sobretudo, frente a atual conjuntura de ofensiva aos movimentos sociais no resgate a memória dos que morreram durante a ditadura militar. Na opinião da diretoria, é preciso fortalecer a concepção de sujeitos coletivos. Despertar na comunidade acadêmica o entendimento da universidade como um espaço para a luta coletiva, tal como a ADUNEB tem pautado durante sua história de resistência, frente à reitoria e ao governo do estado, pela defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade.
 
Diretora da ADUNEB faz homenagem à Nora Cortiñas