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Novembro Negro - Combate ao racismo e à intolerância foram temas de debate na ADUNEB

 Como parte das atividades do Novembro Negro a ADUNEB e a CSP-Conlutas Bahia promoveram, nesta segunda-feira (23), em Salvador, a mesa redonda “A Consciência Negra em Debate: Mundo do Trabalho, Violência contra as Mulheres, Racismo e Intolerância Religiosa”. Para discutir os temas propostos a atividade contou com a participação de Celso Silva (ADUNEB), Gildasio Daltro (CSP-Conlutas), Otto Figueiredo (Adufs) e Zilmar Alverita (Ufba).

Primeiro a falar, o Pró-Reitor de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis, da Uefs, prof. Otto Figueiredo, abordou inicialmente o atual acirramento político / ideológico no país. Para Figueiredo, os avanços nas legislações e conquistas referentes aos direitos humanos fez com que os setores reacionários da sociedade emergissem em contra-ataque. O professor da Uefs pontou a parcela de responsabilidade histórica das universidades brasileiras diante desse contexto racista que, por muitas décadas, construíram obras exaltando de maneira equivocada o mito da mestiçagem e da democracia racial. O resultado teria sido a invisibilidade ao preconceito racial no Brasil. Figueiredo afirma que nos dias atuais a universidade ainda tem suas grades curriculares construídas a partir do pensamento dos intelectuais da Europa. Fato que precisa ser revisto, oferecendo visibilidade a intelectuais que possuem reflexões feitas a partir de outros espaços, a exemplo de latinos e africanos.
 
O Filósofo Celso Silva, da ADUNEB, fez reflexões sobre a intolerância religiosa e colocou o Direito como um instrumento de luta a ser utilizado pelos oprimidos. Segundo Silva, a atual intolerância religiosa é traduzida em diversas formas de violência na sociedade, e acontece, entre outros fatores, para impedir o fortalecimento de crenças e valores que sejam considerados diferentes dos padrões sociais vigentes. Com base nesse cenário, o professor da Uneb cita que o Direito, em tese, deveria ocupar um lugar de proteção a pessoas injustiçadas e na defesa dos oprimidos. Porém, o que se observa é a Lei atuando apenas no resguardo de direitos do Estado. “O Estado que se propõe a garantia de direitos é o mesmo que comete assassinatos, segrega e discrimina”, afirma Celso Silva. Como exemplo, o docente cita os atuais Projetos de Lei, que atacam os direitos à demarcação das terras indígenas e quilombolas.
 
Atenção de todas/os ao debate qualificado
 
Militante feminista e pesquisadora das questões de gênero, a professora Zilmar Alverita refletiu sobre a opressão no mundo do trabalho. Para a docente, a atual crise do Capital faz com que aconteçam os constantes ataques aos direitos históricos conquistados pelos trabalhadores, entre eles, aposentadoria, salários, jornada de trabalho, etc. Desde a década de 90, acontece a intensificação da precarização do trabalho em toda a classe trabalhadora, sobretudo, às mulheres, negras, negros e jovens, restando aos mesmos, em sua maioria, o desemprego ou o trabalho informal. Zilmar ressaltou ainda que o retrocesso no mundo do trabalho já impacta a todos, pois, o desemprego também atinge gerentes e outros cargos de alto nível. O processo de destruição efetivado pelo Capital é outra preocupação da pesquisadora, que relembrou alguns problemas latentes, como: a tragédia da barragem de Mariana, a opressão aos quilombolas do Rio dos Macacos, e restrição à pesca aos ribeirinhos da Ilha de Maré, entre outros.
 
O representante da CSP-Conlutas, Gildasio Daltro, fez uma análise a partir das relações entre classe e raça. Segundo Daltro, o mito da democracia racial foi um instrumento criado pela classe dominante para conter o fortalecimento da classe trabalhadora. O debatedor se mostrou preocupado com a dificuldade de relacionamento entre a esquerda brasileira e o movimento negro, algo que foi mais fácil há décadas atrás. O sindicalista defende a aproximação dos dois setores para que se possa construir uma luta conjunta, com respeito as especificidades de cada organização, mas tendo um recorte de classe como algo fundamental para nortear a luta. No embate contra o racismo não basta apenas ocupar os espaços de poder do Capital, mas sim a superação do Capitalismo como sistema econômico hegemônico. Para Daltro, a quebra de paradigma só acontecerá a partir da unidade de luta da esquerda e do movimentos negro. “A revolução no Brasil será negra, ou não será”, concluiu.
 
Mesa redonda organizada pela ADUNEB e CSP-Conlutas Bahia fez 
parte das atividades do Novembro Negro