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Protesto contra a Polícia Militar na USP termina com mais repressão

A Conlutas repudia veementemente a repressão que vem ocorrendo na USP pela Polícia Militar, a mando da reitora Suely Vilela. Ao invés de negociar com os grevistas, a reitoria da universidade usa recursos da ditadura militar: repressão aos trabalhadores. Pela imediata saída da PM da USP!

O protesto para exigir a retirada da polícia militar do campus da USP terminou com mais repressão. Nesta terça-feira 9, funcionários, estudantes e professores da USP, Unesp e Unicamp realizaram um ato em frente à reitoria da USP para denunciar a a ação da reitoria que impôs a presença da PM na universidade e exigir a retomada das negociações com o Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas), entre outras reivindicações. Em seguida os manifestantes se dirigiram em passeata até o portão principal, onde foi realizado um “trancaço”. Por volta das 17h, quando o ato já estava se encerrando e os manifestantes retornavam para frente da reitoria, foram disparadas bombas de gás lacrimogêneo pela tropa de choque, deixando feridos e três presos.

Cerca de 200 policiais militares estão na Cidade Universitária desde o último dia 1º, depois que a reitora da USP, Suely Vilela, solicitou intervenção policial para “conter” os piquetes dos funcionários - estes em greve há mais de um mês - estudantes e professores. Segundo o professor Otaviano Helene, presidente da Adusp, o Cruesp suspendeu as negociações com o Fórum das Seis (que representa alunos, professores e funcionários das três universidades) e impediu seus representantes de entrar na reunião do dia 25 de maio, no entanto o Conselho divulgou que o Fórum se recusou a participar. “É inaceitável. Em vez de negociar, de dialogar, a reitoria chama a polícia. Isso mostra a intransigência do Cruesp”, disse.

A presença da polícia no campus causou indignação. Para o funcionário da USP e diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) Magno de Carvalho, a polícia na USP é um ataque a toda a população e, principalmente, àqueles que lutaram e morreram 30 anos atrás contra a intervenção militar na universidade. “Desde os tempos da ditadura não se via uma ofensiva tão grande”.

Ataque ao movimento sindical

Diretores do Sintusp sofrem processos administrativos. Funcionário demitido diz que é perseguição política

Segundo Magno, o Sintusp está sofrendo os maiores ataques nos mais de 30 anos de lutas. “Se não bastasse os homens da PM, tentam eliminar os dirigentes mais conhecidos. Nesses anos, nossas lutas não foram só salariais, mas em defesa da universidade, pela educação pública para todos, pela liberdade, questões que interessam a toda a sociedade”, afirmou. A demissão do diretor do Sintusp Claudionor Brandão, para ele, é um exemplo disso. Na tarde desta segunda, mais dois diretores do sindicato foram intimados a responder processos administrativos por terem realizado piquetes: os funcionários Anibal Ribeiro Cavali e Zélito Souza dos Santos.

Brandão, demitido em dezembro de 2008, propôs uma reflexão aos manifestantes. “A ditadura e a violência se resumem à presença da PM ou a PM está a serviço de algo?”, disse. Para ele, “faz parte do projeto do PSDB de sucatear a educação pública, de aprofundar a terceirização”. “Os processos são frutos de perseguição política. Vamos lutar para reverter a demissão e contra a perseguição aos trabalhadores, não tinha faltas nem falhas, fui demitido por fazer greve”, disse Brandão, funcionário da USP há mais de 20 anos. Ele foi uma das pessoas que foram levadas à delegacia e liberadas no início da noite de terça. Segundo Brandão, ele viu um manifestante sendo preso e, ao perguntar o motivo, sem ser desrespeitoso, foi algemado.

Mais ataques - Como lembrou a representante da Conlutas, Ana Luiza Gomes, que é servidora do Judiciário e diretora do Sintrajud, os ataques não vêm somente do governo Serra. “É necessário barrar o projeto de lei 92/2007 que cria fundações privadas para gerenciar serviços públicos e o projeto que acaba com o direito de greve no serviço público”. Para Ana, a demissão do Brandão aumenta a revolta e a consciência dos trabalhadores, e a política imposta pela reitoria de buscar a polícia e não o diálogo fortalece a greve.

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Luis Carlos Prates, o Mancha, que também foi levar apoio aos grevistas, destacou que a greve nas universidades se soma às diversas greves que estão acontecendo contra os efeitos imediatos da crise. “Muitas vezes essas greves são ocultadas pela grande imprensa”, disse, referindo-se a recentes mobilizações, tais como, trabalhadores da Embrapa, da educação do Pará, entre outras.

Para o estudante de Ciências Sociais e diretor do DCE da USP Gabriel Casoni, a entrada da PM causou indignação da comunidade, mas isso expressa um processo que vem sendo implementado pelo governo federal e estadual. Segundo o estudante, o projeto inclui terceirização, arrocho salarial, apropriação do conhecimento produzido nas universidades por empresas e não a serviço da sociedade, precarização do ensino.

Os manifestantes também são contra o Univesp, projeto que cria cursos de graduação a distância. “O ensino a distância deveria ser uma complementação, mas o projeto prevê a substituição”, disse. Por fim, estudantes, professores e funcionários da USP reivindicam a democratização na universidade, com eleições diretas para reitor.