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“Não existe poder sem comunicação”, diz Vito Gianotti

Escritor abre seminário nacional do ANDES-SN afirmando que a comunicação é a centralidade da luta dos trabalhadores

A afirmação que intitula este texto é do escritor Vito Gianotti, em sua palestra de abertura do Seminário Nacional Comunicação Sindical e Organização dos Trabalhadores, realizado na sede do ANDES-SN no último final de semana. Militante da esquerda há mais de 20 anos, o italiano radicado no Brasil é um dos coordenadores no Núcleo Piratininga de Comunicação, no Rio de Janeiro, e tem uma vasta produção bibliográfica sobre a comunicação dos trabalhadores – mais de 20 livros publicados, conhecidos não apenas no mundo sindical, mas também adotados por professores nas faculdades de jornalismo.

Ao afirmar que “não existe poder sem comunicação”, Gianotti expressa o entendimento dos que estudaram comunicação ou simplesmente enxergam, no seu dia-a-dia, que os meios de comunicação são essencialmente estratégicos na construção, fortalecimento ou enfraquecimento dos valores numa sociedade. “Há 300 anos os jornais apenas ensaiavam. A leitura disponível era a Bíblia. Porém, na Inglaterra , no começo da industrialização, o jornal explodiu. E esses jornais existiam para divulgar ideias de grupos políticos e econômicos. Hoje em dia, não temos apenas jornais, temos um conjunto de meios de comunicação, que é a mídia. Por isso, para os movimentos sociais, a comunicação é a centralidade da luta, porque é nos nossos meios que podemos fazer a contra-informação”, entende Gianotti.

O escritor militante apresentou uma análise do conteúdo da maior revista brasileira de informação política semanal, a Veja, da Editora Abril. O viés da análise foi a averiguação de como o semanário divulgou toda as edições do Fórum Social Mundial. A conclusão: a Veja esconde o evento. Em sua pesquisa, Gianotti constatou que em todas as edições do Fórum, a Veja ou não deu sequer uma chamada de capa, ou pôs uma chamada discreta (na edição de 2 de fevereiro de 2005) para um texto que não representava, verdadeiramente, o espírito de um evento que reúne pessoas do mundo inteiro, com uma pauta de discussões rica e, em sua quase totalidade, contrária aos interesses da classe dominante.

Gianotti explicou que a Veja foi “contemplada” por ser a de maior tiragem - mais de um milhão de exemplares lidos por 8,8 mil leitores em todo o país (esses números são da própria revista). “Mídia é disputa de hegemonia. Não existe mídia neutra, sem lado. A mídia empresarial tem um lado muito claro, que é manter a sociedade como está”, sustentou.

Para ele, Veja, O Globo, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo são “os quatro cavaleiros do apocalipse” da imprensa. “Em 2003, Bush resolveu invadir o Iraque, matar um milhão de iraquianos. Na época, houve um enorme consenso no mundo, a despeito de uns poucos que protestaram em seus países. Dos seis bilhões de pessoas do mundo, uns cinco bilhões e meio aderiram tranquilamente ao extermínio do Iraque. Não teria havido esse consenso e os Estados Unidos não teriam tido condição política, moral, de invadir o Iraque, se não fosse a mídia mundial apoiando essa invasão. Foi por meio da mídia que Bush convenceu o mundo de que o Iraque tinha armas atômicas. Agora, a história continua com o Irã. Essa é só uma demonstração do poder da mídia”.

Jornalismo sindical
Gianotti engrossa o coro de jornalistas, estudiosos da comunicação e militantes que acreditam que todo sindicato, ou qualquer outra organização social, tem que ter seus próprios meios de comunicação. “Não existe partido sem jornal. Não existe sindicato jornal. E o jornal é apenas um dos meios para fazermos a nossa disputa hegemônica. Temos que ter blogues, boletins eletrônicos, páginas na Internet, rádios. Temos que explorar a diversidade de meios existentes para darmos a informação pela ótica dos trabalhadores”.

O seminário
Embora não tenha tido uma expressiva participação quantitativa de jornalistas e dirigentes de suas seções sindicais, o evento reuniu profissionais e militantes das cinco regiões do país, que debateram não somente a comunicação do Sindicato Nacional, mas a também a mídia sindical e a mídia comercial. No sábado, os parcipantes discutiram jornalismo sindical com a assessora de imprensa do Instituto Chico Mendes e da ADUnB, Carla Lisboa, e com a coordenadora de comunicação da ADUFERJ, Ana Manuella Soares. No período da tarde, ouviram uma palestra sobre a Conferência Nacional de Comunicação, com o vice-presidente da Associação Brasileira de Canais Comunitários - ABCcom. Ao final do seminário, os participantes sugeriram um rol de ações que o Sindicato Nacional deverá realizar para tornar sua comunicação mais eficaz e abrangente. Coube ao Grupo de Trabalho Comunicação e Arte encaminhar essas sugestões à diretoria da entidade.




Nota da ADUNEB: A assessora de Comunicação da ADUNEB, Raíza Rocha, esteve presente no seminário.