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Professores, estudantes e movimentos sociais lotam plenário da Câmara de Uberlândia em ato pelos 30

O plenário da Câmara Municipal de Uberlândia ficou lotado na manhã de hoje (17/2), durante Ato Público comemorativo aos 30 anos de fundação do ANDES-SN. Parte da programação do 30º Congresso do Sindicato, a atividade contou não só com a presença de professores universitários, mas também representantes da comunidade universitária da UFU, movimentos sociais e de estudantes das escolas estaduais de Minas Gerais. Os estudantes se juntaram à atividade para denunciar e reivindicar que as cotas previstas no Programa Alternativo de Acesso ao Ensino Superior (PAAES/UFU), para estudantes de escolas públicas, sejam respeitadas.

A parte cultural do Ato ficou a cargo da apresentação do Terno de Congada, “Congo Sainha”, do capitão Eustáquio Marques (foto à esquerda). Símbolo da resistência negra contra a opressão, a congada é uma celebração popular de culto aos ancestrais africanos através de danças de percussões e cantorias realizadas por descendentes de nações negras. Os presentes entraram no ritmo do terno de congo mais antigo de Uberlândia.

O 1º vice-presidente da Regional São Paulo do ANDES-SN, Francisco Miraglia, abriu a reunião convidando os representantes a comporem a mesa. O secretário geral do ANDES-SN, Márcio Oliveira, COMEÇOU a cerimônia lembrando os 30 anos de história do Sindicato Nacional, que nasceu no início da década de 80, ainda como associação. “Costumo dizer que nós nascemos dentro das trincheiras da luta contra a ditadura militar e, desde então, nos envolvemos em todas as grandes lutas do país: anistia, redemocratização, Diretas Já e construção do Plano Nacional de Educação, entre outras”.

Segundo o dirigente, o ANDES-SN iniciou a década de 90 já como sindicato. “Após a Constituição de 1988, entendemos que era necessário ultrapassar a linha da associação”, justificou. Para Márcio, a onda neoliberal e o avanço das forças do capital colocaram no horizonte uma série de propostas que colidiram com a defesa da universidade pública, da autonomia universitária, do direito dos servidores públicos. “No governo Collor nós conseguimos derrubar, mas vieram o FHC e Lula. A universidade passou a ser ameaçada sistematicamente. E os direitos dos professores também", acrescentou.

Da década seguinte, o secretário-geral relembrou a traição da Central Única dos Trabalhadores, que apoiou a reforma da previdência que tanto prejudicou os trabalhadores brasileiros. “Após esse fato, nós confirmamos a nossa tendência de afastamento da central. A CUT não conjugava mais com nossas idéias e ideais de luta. Por isso, buscamos um novo caminho, primeiro com a Conlutas e, agora, com a CSP Conlutas”.

Homenagem

Em seguida, procedeu uma homenagem ao professor Edmundo Dias, ex-diretor do Sindicato Nacional e referência de militância e luta para diversas gerações de trabalhadores do país. Muito emocionado, Edmundo, que participou da assembléia de fundação do ANDES-SN, realizada em Campinas (SP), em 1981, agradeceu a homenagem: “sou apenas um militante que credita no que foi seu programa de vida”.

O professor  afirmou que os colegas que, como ele, “são jovens há mais tempo”, viveram um momento absolutamente rico da histórica mundial nos anos 60: viram os negros se libertarem, as mulheres rasgarem os sutiãs, os jovens ganharem as ruas. “Lutamos por liberdade, criamos asas e o desejo de mudar o mundo”.

Edmundo, entretanto, não esqueceu que sua geração também sofreu tortura, prisões, desaparecimentos. E arrancou efusivos aplausos do plenário ao cobrar a abertura dos arquivos da Ditadura Militar. “Só assim poderemos provar que houve tortura e extermínio neste país”, disse ele.

O homenageado terminou sua fala com uma mensagem de esperança e otimismo, ao demonstrar o quanto a luta pela defesa da universidade pública e de qualidade empreendida há 30 anos pelo ANDES-SN tem sido vitoriosa. “em uma sociedade manipulada pelos meios de comunicação de massa, nós ainda temos pensamento crítico. Isso é fabuloso porque representa a possibilidade de transformação”.

Movimento estudantil

Estudante da Escola Estadual Segismundo Pereira, Deivid Alves ocupou o púlpito para exigir, em nome de todos os colegas estudantes de escolas públicas, o cumprimento do programa que reserva vagas para eles no vestibular da Universidade Federal de Uberlândia – UFU. “Nós conseguimos que o programa fosse aprovado, mas ele não está sendo cumprido. Estamos perdendo muitas vagas para os alunos das escolas privadas. Entendemos que eles também têm o direito de estudar na universidade pública, mas este programa é nosso e vamos exigir  o cumprimento dos nossos direitos”, afirmou.

O representante do coletivo DialogAção (movimento estudantil da UFU), Ricardo Takayuki Tadokoro, ressaltou a importância do Sindicato Nacional. “O ANDES-SN é referência nacional para os movimentos que lutam pela transformação social”. Ele também denunciou a criminalização dos movimentos estudantis na UFU, onde alunos estão sendo processados e sofrendo constrangimento ilegal.

Inaê Soares de Vasconcelos , do Diretório Central dos Estudantes – DCE da UFU, pediu que os docentes, jovens ou velhos, “não esmoreçam e mantenham entusiasmo para lutar por reformas profundas”.

Movimentos sociais

O representante do SOS Clima Terra – Campanha Mundial por Justiça Climática, Sustentabilidade e Contra o Aquecimento Global, Roberto Ferdinando, falou sobre as ameaças ao planeta e pediu ao ANDES-SN que incorpore às suas atividades para o período a luta contra a construção da usina de Belo Monte e contra as alterações previstas para o Código florestal brasileiro, iniciativas que, segundo ele,  significam uma verdadeira tragédia ambiental para o Brasil e para o mundo.

A Coordenadora Regional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Ana Maria, agradeceu o convite, ao mesmo tempo em que deu os parabéns pela atividade pública promovida pelo ANDES-SN e a ADUFU-SS. “É uma honra participar de uma atividade tão importante como essa ao mesmo tempo em que temos preocupações com questões ambientais, e a necessidade do combate ao agronegócio e às usinas de cana de açúcar no triângulo. O impacto socioambiental é enorme. É preciso se defender de tanto veneno”, disse. Ana aproveitou para informar o despejo das famílias do pré-assentamento Roseli Nunes, localizado entre as cidades de Uberlândia e Uberaba.

Movimentos sindicais

A Coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE), Elaine Cristina, reforçou a complexidade do momento político vivido e pediu apoio para a luta pelo piso nacional do professor. “Até dezembro passado, tínhamos professores ganhando R$ 330 aqui em Minas Gerais. Agora, conseguimos unificar um teto estadual de R$ 1,3 mil, o que ainda está muito aquém das nossas necessidades”.

O representante do Sindicato dos Trabalhadores da UFU, Carlos Roberto Correia, denunciou a privatização dos hospitais universitários e o impacto que essa medida do governo Dilma terá nas condições de trabalho da sua categoria e na vida da população. “No nosso hospital-escola, a maioria da mão-de-obra é terceirizada. Até a lavanderia foi terceirizada. Agora, a roupa hospitalar é separada nos corredores, aumentando os riscos de contaminação”, exemplificou.

Em nome da central sindical CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes afirmou que a busca incessante pela autonomia, pela independência, é a síntese do ANDES-SN. “E é justamente isso que leva essa entidade a buscar novos instrumentos para efetivar a luta dos trabalhadores. O dirigente pediu paciência aos “jovens há mais tempo” para que não deixem de disputar as consciências dos mais jovens. “A força dessa juventude que aqui está é a mesma da juventude egípcia e tunisiana, que varreram ditaduras históricas naqueles países”.

Representando os professores do campus avançado Pontal/UFU, Marcelo Abreu denunciou a precarização crescente das condições de trabalho dos recém ingressos na carreira. “Temos uma carga horária maior, que não nos permite sequer fazer pós-graduação. A qualidade do ensino superior está ameaçada e estamos vivendo esse processo de forma dramática no campus Pontal”.

O Vice Presidente da ADUFU-SS, Prof. Edilson Graciolli, lembrou da publicação do Sindicato Nacional, a Revista Universidade e Sociedade. “A ADUFU Seção Sindical procura se pautar por esse debate. A Universidade é um centro de elaboração, difusão e disputa de visões de mundo, de direção política, moral e intelectual. Querem transformá-la apenas num espaço de uma determinada razão instrumental; a razão do agronegócio, do capital, que é o que está por trás da destruição do meio ambiente”, comentou.

Edilson criticou o primeiro ato da nova administração da universidade, que capitulou às pressões do mercado ao adotar posturas não laicas na definição das datas do vestibular. Ele também denunciou que a política de cotas para alunos das escolas públicas não está sendo cumprida, reforçando a fala do estudante. “Nós defendemos a universidade pública para todos. Que um dia essas políticas de cotas não sejam mais necessárias”, concluiu.

Unidade para a luta

De acordo com a presidente do ANDES-SN, Marina Barbosa Pinto, o objetivo do ato foi afirmar, coletivamente, o compromisso do Sindicato Nacional com a educação pública e com as entidades independentes que organizem a luta da juventude. Segundo ela, neste momento em que o governo federal anuncia cortes no orçamento, suspende a realização de concursos públicos e edita uma medida provisória que permite a contratação de professores substitutos para as universidades, o ANDES-SN precisa rearticular a luta por destinação de um maior percentual do Produto Interno Bruto – PIB do país para a educação. “A opção pela contratação de substitutos é a opção pela precarização”,  sintetizou.

Marina conclamou os presentes a integrarem a agenda de lutas do sindicato Nacional. “Por meio da luta pela educação pública, organizaremos todas as outras lutas: pela reforma agrária, pela sustentabilidade do planeta, pelas cotas para escolas públicas.Vamos lutar para garantir um serviço público de qualidade e condições de trabalho para o servidor”.

A presidente reafirmou que o sindicato continuará buscando a unidade com os demais setores do movimento sindical que se disponham a lutar para empreender as mobilizações necessárias para o período. “Nossos esforços não serão vitoriosas se nos isolarmos em nós mesmos. A unidade é a nossa condição para a vitória".