Opiniões e Debates

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Sobre meninos e lobos

 

Carlos Zacarias de Sena Júnior*

Os acontecimentos que se sucederam na Bahia durante os dias de greve dos policiais repetem como farsa uma lógica que há tempos move os governantes no Estado. Desde a época da Ditadura, entra governo e sai governo e o tratamento oferecido aos grevistas do serviço público tem sido sempre na base do chicote. Nos tempos sombrios do carlismo, havia ameaça de demissão de servidores, ainda que a revelia da Lei, ou respaldado nela no caso de servidores contatados em regimes especiais, servidores em estágio probatório ou ocupantes de cargos de direção. Passado o carlismo a história se repete, pois quem viu e ouviu as declarações do governador Jaques Wagner, e quem goza de boa memória ou é conhecedor da história, sente uma sensação de déjà vu em relação ao petista que bravateou acusações e ameaças aos grevistas de hoje, da mesma maneira que o fez com professores em 2007 e 2011.

Para os que não lembram, aqui vai um refresco de memória sobre as atitudes dos que hoje governam a Bahia e que antes eram os “vândalos” e “terroristas” que assombravam a ordem, incendiando ônibus durante o quebra-quebra de 1981, ou incitando os policiais em greve em 1992 e 2001 contra os governos carlistas. Isso para não falar dos tempos da Ditadura, quando integravam organizações guerrilheiras que enfrentavam de armas na mão o arbítrio do Estado. É verdade que devemos dar a César o que é de César, pois petistas e pecedobistas pouco participaram da Revolta do Buzu de 2003 e cada vez mais procuram se desvencilhar dos movimentos sociais mais combativos. Quando não, só recorrem a ele para colher votos de incautos que esquecem as diatribes governistas.

A verdade verdadeira é que a farsa de hoje revela a face nova do petismo, porque onde há governo do PT há uma tentativa desesperada de aparecer à opinião pública como os promotores da paz social e da plena ordem do regime democrático. Afinal de contas, pesará sempre nas costas dos petistas a pecha de “ex-vândalos” e “ex-terroristas” que eles hoje querem transferir a outros.
 

* Doutor em História. Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA)